A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) está presente há 20 anos em Moçambique, e apesar das diversas críticas que sofre e das inúmeras denúncias de fraude, a denominação vem crescendo acima da média e consolidando sua influência e poder no país africano.
A revista Carta Capital relatou um mega evento promovido pela igreja que ocorreu em setembro de 2011 reunindo mais de 40 mil pessoas no Estádio Nacional de Maputo, capital moçambicana, além ainda das cerca de 30 mil pessoas que não conseguiram entrar no estádio e acompanharam o evento do lado de fora por telões. O “Dia de Decisões” (ou “Dia D”) foi um mega culto que, segundo a Carta Capital, marcou um ano lucrativo da IURD em Moçambique.
O artigo da Carta Capital fala da relação do país com a igreja lidera por Edir Macedo falando que “poucos lugares do planeta fornecem terra mais fértil para uma mensagem de cura e prosperidade do que Moçambique”.
Nos primeiro anos de atuação da igreja no país depois da “Guerra de Desestabilização” (1976-1992) ela enfrentou duras críticas, inclusive por autoridades políticas como o então ministro de Cultura e Desporto, Mateus Katupha, que criticou o uso de instalações esportivas para eventos religiosos. Atualmente a igreja conta com grande apoio político no país, oposto à Katupha o atual ministro da cultura não só apoiou como esteve presente no “Dia D”. O líder da igreja, Edir Macedo, já foi, inclusive, recebido pelo presidente Armando Guebuza.
Apesar do apoio político e popular de uma considerável parcela da população, a igreja não está isenta de críticas. Expressões populares como “Pastores Ladrões” e “Igreja de Burla” (fraude) que fazem referência à denominação são comuns no país.
Ex-membros da igreja descontentes e que até mesmo lamentam já terem feito parte da igreja não são difíceis de encontrar, e muitos falam de sua desagradável experiência com a instituição. A revista falou com três senhoras que saíram da igreja: Graça conta que entregou um crédito bancário no altar da IURD para resolver um conflito com seu marido. Selma, que procurou seu filho durante 20 dias na Suazilândia e, aconselhada por um pastor, doou 1,2 mil dólares à igreja antes de tomar conhecimento do seu assassinato. E Felicidade, que interrompeu a construção da sua casa e deixou 25 sacos de cimento no quintal da igreja para se beneficiar de uma bênção anônima
Líderes de outras igrejas evangélicas também criticam a postura da IURD, como o pastor Claudio Mulungo, da Igreja Maná, que disse que “eles [IURD] entendem de feitiçaria e tradição africana muito bem. Dão incensos, pulseiras e todas as coisas que um curandeiro dá”, segundo ele a igreja faz uso das mesmas mandingas e talismãs típicos das religiões afro de Moçambique.
Críticos debatem também sobre a forma que a igreja influencia seus membros a fazerem doações financeiras e alegam que a instituição, que é dona da rede de TV de maior audiência do país, deveria ser tratada tal como uma empresa e teria que ser obrigada pagar impostos ao governo.
Alice Mabota, presidente da Liga Moçambicana de Direitos Humanos (LDH) também criticou a igreja, e deu exemplo de vários casos de denuncias contra a igreja que nunca tiveram resolução judicial. “Em um Estado normal, (esses casos) receberiam uma decisão. Mas aqui, não. É por causa do poder de influência da igreja através do medo”, criticou.
Mabota comentou também a estreita relação da igreja com políticos do país, e citou membros influentes do governo que fazem parte da denominação. “Para mim, é o governo a cuidar de si mesmo. Quando chega a hora de votar, eles vão mobilizar todo o povo da Igreja Universal para votar neles”, concluiu ativista de direitos humanos.
Fonte: Gospel+