Setores da Igreja Católica contrários à greve de fome do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, aumentaram a pressão pelo fim do protesto. Ontem, o cardeal arcebispo e primaz do Brasil, dom Geraldo Majella Agnello, foi a Sobradinho (a 540 km de Salvador) pedir pessoalmente ao religioso que encerrasse o jejum.
Cappio, que não se alimenta há oito dias em protesto contra o projeto de transposição das águas do rio São Francisco, disse que não recuará. “Mantenho meus propósitos”, declarou ele à Folha, por telefone.
O religioso conversou por uma hora, a portas fechadas, com Majella e mais quatro bispos –entre eles o conselheiro permanente da CPT (Comissão Pastoral da Terra) dom Tomás Balduino, aliado de Cappio.
No encontro, o bispo recebeu uma carta do cardeal, com o posicionamento da regional Nordeste 3 (Bahia e Sergipe) da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil). No documento, a entidade manifesta solidariedade em relação à luta de Cappio, mas discorda da forma escolhida para isso.
Cappio disse que ficou “alegre pela solidariedade” e afirmou que via o pedido de recuo feito por Majella como um gesto de preocupação com a sua vida. “Os pedidos para que eu recue vêm de toda parte”, declarou. “Todos me querem bem, querem me ver com vida, mas mantenho meus propósitos.”
O bispo afirma que manterá o jejum “até o fim”. Ele condiciona a suspensão do protesto à saída do Exército do canteiro de obras e ao arquivamento do projeto da transposição. O governo diz que a obra continua.
A igreja de São Francisco, em Sobradinho, onde Cappio está, transformou-se em ponto de encontro de romeiros, pescadores, políticos e ativistas ligados a movimentos sociais.
Ontem à noite, o bispo celebraria uma missa campal, às margens do rio São Francisco. A cerimônia seria precedida por uma caminhada de três quilômetros, feita pelos fiéis. A CPT, que participou da organização, esperava a presença de pelo menos 2.000 pessoas.