A bancada evangélica na Câmara ficou reduzida a pouco mais da metade em conseqüência do envolvimento de seus integrantes com a máfia dos sanguessugas. Com 62 deputados na legislatura passada, a bancada conta agora com apenas 37 integrantes. A CPI dos Sanguessugas apontou 69 deputados de envolvimento com a quadrilha das ambulâncias. Vinte e quatro eram evangélicos. Nenhum deles conseguiu a reeleição. Alguns nem tentaram. Entre os acusados, 14 eram membros da Igreja Universal. A atual bancada evangélica tem a predominância da Assembléia de Deus, com 12 integrantes. Três deles trocaram de partido após a eleição e ingressaram no PAN. A Universal ficou reduzida a cinco representantes. Na legislatura anterior, havia 18 deputados da Universal e 20 da Assembléia de Deus.
O envolvimento com os sanguessugas dizimou a cúpula da Frente Parlamentar Evangélica. O presidente, Adelor Vieira (PMDB-SC), e três vice-presidentes, João Batista (PFL-SP), Wanderval Santos (PL-SP) e Almir Moura (PL-RJ), incluídos na lista da CPI, não foram reeleitos. Mesmo quem não foi citado acabou sofrendo desgaste eleitoral. Em alguns estados, adversários locais difundiram a idéia de que todos os evangélicos teriam colaborado com a máfia das ambulâncias. Os vice-presidentes Pastor Pedro Ribeiro (PMDB-CE) e Pastor Reinaldo (PTB-RS) ficaram como suplentes de deputado em seus estados.
Depois dos problemas enfretados na última legislatura, pelo menos três presidentes nacionais de igrejas evangélicas, Bispo Rodovalho (PFL-DF), da Sara Nossa Terra; Bispo Manoel Ferreira (PTB-RJ), da Assembléia de Deus; e Mário de Oliveira (PSC-MG), o Evangelho Quadrangular, foram para a disputa eleitoral e se elegeram deputados. Um deles deverá assumir a presidência da frente parlamentar.
Nova direção
Adelor foi apontado pelo empresário Luiz Antônio Vedoin como colaborador do grupo Planam. O empresário disse que pagou propina de R$ 40 mil ao parlamentar. Uma parcela de R$ 26 mil teria sido entregue pessoalmente por Vedoin ao parlamentar na Câmara. Mais R$ 14 mil teriam sido pagos a uma gráfica de Joinville (SC) indicada pelo deputado, no final de 2005. Adelor apresentou uma emenda em 2004, no valor de R$ 560 mil, destinada a uma entidade assistencial de Joinville denominada Sociedade de Assistência Social Deus Proverá. A comissão teria sido paga em conseqüência da apresentação dessa emenda.
Em entrevista ao Correio, Adelor negou que tenha colaborado com o grupo Planam e afirmou que os evangélicos estariam sendo perseguidos. “Nunca tive contato com eles. Querem pregar essa pecha de que os evangélicos seriam uma quadrilha. Isso é grave. Há alguma coisa por trás disso”, desabafou. Antes dele, o grupo foi liderado pelo deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ), que renunciou ao mandato quando foi envolvido no escândalo do mensalão. Em maio do ano passado, Rodrigues foi preso por envolvimento com a máfia das ambulâncias.
Com a queda da sua cúpula, quem responde atualmente pela frente parlamentar é o quarto-secretário, deputado Lincoln Portela (PR-MG). Ele reconhece que a redução da bancada foi motivada pelo escândalo dos sanguessugas: “O fato determinante foi o envolvimento de muitos evangélicos com os sanguessugas. Os evangélicos não se sentiram confortáveis para eleger esses deputados como na eleição passada. Os grupos evangélicos, hoje, não votam só porque o candidato é evangélico. Essa história de ‘irmão vota em irmão’ não existe mais. E tinha muito disso há tempos atrás”. Ele acrescentou que todos acabaram pagando pelos culpados: “Alguns dos citados eram inocentes, mas nem disputaram a eleição”.
Sem vínculo
Mesmo sem ter qualquer envolvimento com a máfia das ambulâncias, Portela disse que não pretende mais manter um vínculo com a frente parlamentar: “O deputado tem que ser deputado para a nação toda. Alguns estão preferindo trabalhar mais pelo mandato”. Ele afirma que deverá ser eleito um novo presidente da frente nas próximas semanas. Aposta em dois nomes: Walter Pinheiro (PT-BA) e Bispo Rodovalho (PFL-DF): “São dois nomes de muito conceito na Casa”, argumenta.
Questionado sobre essa possibilidade de presidir a frente, o recém-eleito Rodovalho responde como um político experiente: “Estou querendo servir, querendo ajudar”. Mas citou outros “grandes nomes”, como Manoel Ferreira, João Campos (PSDB-GO) e Pastor Takayama (PMDB-PR). Rodovalho também aponta o motivo da redução da bancada: “Sem dúvida foi toda aquela situação que envolveu a Operação Sanguessuga, com a denúncia de alguns líderes. Aquilo machucou muito e levou a igreja a se tornar mais exigente na questão do voto, e houve uma redução”. Segundo Rodovalho, os envolvidos foram punidos de acordo com o código de ética de cada igreja.
Fonte: MidiaMax