Uma publicação na Alemanha pouco conhecida no Brasil tem chamado atenção da população nos últimos anos, especialmente dos teólogos cristãos, se trata de uma bíblia feminista elaborada a partir dos textos hebraicos e gregos, por 52 especialistas em bíblia, sendo 42 mulheres e 10 homens. No texto, Deus é chamado de “A Eterna”, “Ele” ou “Ela”, assim como existem “Apóstolas” e “fariséias”. Até a oração do Pai Nosso foi modificada para “Pai e Mãe do céu…”
Segundo o texto promocional da bíblia feminista; “Se você mulher quer se sentir incluída na Bíblia, ou não quer mais dizer ” Senhor ” a Deus, ou quiser trabalhar com uma tradução que é justa com gêneros e justa com interpretações anti-judaicas, esta Bíblia é para você”, diz o trecho, convidando o publico feminino para uma suposta “inclusão”.
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A Bíblia feminista “in gerechter Sprache”, ou simplesmente “Bíblia numa linguagem mais justa”, como chamam seus idealizadores, tem por objetivo desconstruir o que para as teólogas feministas são textos “patriarcais”, isto é; influenciados pelo sexo masculino. Segundo elas, termos como “Senhor”, “Deus” e até mesmo “Filho de Deus” não fazem justiça a igualdade de gênero, pois refletem uma ideia de exclusão do sexo feminino.
“Uma das grandes idéias da Bíblia é a justiça. Nossa tradução faz justiça às mulheres, aos judeus, aos desfavorecidos”, disse a coordenadora do projeto, Hanne Koehler, em publicação no G1.
No entanto, a ideologia de gênero trazida para o contexto bíblico sofre críticas severas da maioria dos teólogos, homens e mulheres. Para o Dr. John M. Frame, professor do Seminário Teológico de Westminster, especialista em Teologia Sistemática, argumenta na obra “A Doutrina de Deus” (2002) que a utilização dos gêneros linguísticos masculinos como referência à Deus não possuem conotação sexual. Para ele:
“…esta questão envolve o uso da linguagem figurada. Ninguém argumentaria que Deus é literalmente macho ou fêmea, assim os cristãos em geral concordam que Deus é incorpóreo. (…) Apesar da Escritura, às vezes, representar Deus antropomorficamente pelo uso de figuras de partes do corpo humano, estas partes não incluem os órgãos sexuais. Deste modo, a sexualidade não é parte das figuras visuais da Escritura”.
Para o Dr. Frame, a grande ênfase de referências bíblicas para Deus no gênero masculino, como “Juiz”, “Rei” e “Senhor”, não é fruto do “patriarcado” cultural da época, uma vez que os escritores do Antigo Testamento, por exemplo, viviam num contexto onde deidades femininas eram reverenciadas, como citado em Jz 10:6; 1 Sm 7:4; 12:10. Ashtoreth, por exemplo, foi adorada pelos cananitas como esposa de Baal. Sendo assim:
“A junção de deidades masculinas e femininas foi um aspecto importante da adoração de fertilidade pagã. Assim, ao escrever sobre Yahweh, os escritores do Antigo Testamento não escolheram uma linguagem masculina irrefletidamente (…) não foram influenciados por um unânime consenso cultural. Antes, eles claramente rejeitaram qualquer adoração de uma deusa ou de uma junção divina.”
O que o Dr. Frame está dizendo é que seria muito mais fácil a aceitação do Deus hebraico, e consequentemente do próprio povo hebreu, se Ele tivesse sido divulgado, também, como uma “deusa”. Todavia, ao apresentá-lo como Yaweh, os escritores reforçam o conceito de inspiração e revelação bíblica. Ou seja, foi o próprio Deus quem, de fato, se revelou assim.
Ainda segundo o autor, o motivo da revelação de Deus se dar em sua maioria por gêneros masculinos diz respeito ao reflexo da ordem estabelecida na sua criação, não só dEle com suas criaturas, como delas entre si, no caso, entre o homem e a mulher. Ele pontua que escritoras feministas como Elizabeth Johnson se recusam aceitar isso como vontade de Deus.
Não por acaso, a “bíblia feminista” substitui os trechos “obedecer a Deus” por “escutar a Deus” e “Senhor” por die Lebendige, no alemão, ou “Vivente”, retirando assim a atribuição de senhorio de Deus e do gênero masculino associado a Ele da relação entre o Senhor e suas criaturas. Ou seja, com isso elas pretendem negar a função de liderança dos homens, na família (Efésios 5:22-26), associadas ao senhorio de Deus para com sua criação.
Com base nisso, explica o Dr. Frame:
“Na Escritura o principal nome de Deus é Senhor, que indica Sua liderança nas alianças, entre Si e as Suas criaturas (…) Um desvio para a figura feminina de Deus poderia certamente diluir a sólida ênfase sobre a autoridade pactual que é centralizada na doutrina de Deus.