O especialista da Bíblia Tolentino Mendonça considera que o ‘livro sagrado’ contém vários relatos carregados de linguagem erótica, caso do capítulo intitulado ‘Cântico dos Cânticos’.
O biblista frisou que o Cântico ‘é o maior exemplo dessa linguagem que, ainda assim, é transversal às escrituras’, mas avisou que, ‘longe de ser condenável e muito menos desprezível, a dimensão erótica assume-se fundamental para revelar e definir o Homem e a relação com Deus’.
Estas foram algumas das conclusões retiradas da comunicação do especialista no II Congresso Internacional de Pedagogia sobre ‘Sexualidade e educação para a felicidade’ que encerra hoje na Faculdade de Filosofia de Braga, da Universidade Católica.
Tolentino Mendonça, que abordou o tema ‘Elementos bíblicos para uma erótica cristã’, começou por referir que a estranheza que a abordagem desta temática ainda causa é algo com ‘raízes profundas no interior e exterior do espaço eclesial, é um problema cultural’.
Em sua opinião, ‘o mais normal é que o homem como animal erótico seja desprezado pelos discursos. Mas isso é o mesmo que negar a própria humanidade do homem’.
O orador chamou a atenção dos presentes para o facto da Bíblia descrever, desde o Génesis, um homem sexuado sem que isso esteja ligado à condição do pecado: ‘A sexualidade bíblica não é contra a erótica nem se resume a enumerar o proibido, registando um elogio ao amor, aos corpos e ao relacionamento’, referiu.
Não sendo o Deus do Antigo Testamento uma entidade representável corporeamente – em antítese aos deuses (ídolos) dos povos vizinhos dos hebreus -, o perito acentua que ‘Deus também se pode dizer pela dimensão erótica’.
É que, – sublinhou – ‘o carnal é, antes de uma avaliação moral, condição identitária do vivente’.
Para o sacerdore, a erótica é ‘o reconhecimento do que sou e do que o outro é’, já que ‘tudo tem uma conotação sexual porque tudo tem uma conotação humana’.
Recomendando a leitura do ‘Cântico dos Cânticos’, Tolentino Mendonça sustentou que ‘a erótica define-nos por dentro e não pela nossa função’ e que aquele livro bíblico ‘não nomeando Deus consegue fazê-lo depreender’ com claridade.
Fonte: Lusa e Correio do Minho / Gospel+
Via: Notícias Cristãs