Arlindo Barreto interpretou o palhaço Bozo entre o final dos anos 1980 e o começo dos anos 1990. A história do personagem está em cartaz no cinema com o filme Bingo: O Rei das Manhãs, e de quebra, expõe parte do testemunho do artista que se converteu ao Evangelho, foi liberto das drogas e se tornou pastor.
Há muitos anos Arlindo Barreto não atua mais como Bozo, mas sua história como intérprete do personagem já o fez viajar pelo Brasil inteiro, testemunhando como os bastidores do programa – exibido pelo SBT – o levaram ao fundo do poço com as drogas e prostituição.
A cocaína era fiel companheira do palhaço Bozo antes do início das gravações, admite Arlindo. Em 1998, em uma entrevista concedida ao extinto jornal Notícias Populares, o ex-artista revelou o “segredo” de sua animação como intérprete: Eu tinha um pique incrível. O calor infernal dos estúdios, aquela roupa, a gritaria das crianças, tudo aquilo era desgastante, e, mesmo assim, eu ficava com a corda toda”, contou.
Antes de Arlindo Barreto assumir o papel de Bozo, o palhaço foi interpretado por outros atores que não se deram bem na função: “Eu tinha 30 anos na época e já gostava de beber. Para contrabalançar o efeito da bebida, que me deixava devagar, eu comecei a cheirar cocaína. Para piorar, minha mãe [a atriz Márcia de Windsor] morreu. Quando percebi, estava completamente dependente da droga”, revelou à quase 20 anos.
Ao contrário do que muitos pensam, o palhaço Bozo não é um personagem brasileiro: foi criado pelo americano Alan W. Livingston, em 1946, e fez sucesso em mais de 40 países.
Ordenado ao ministério pastoral em novembro de 1998, Barreto concedeu entrevista à jornalista Keila Jimenez no mesmo mês, logo após assumir como pastor da Igreja Batista da Vila Primavera, na zona leste de São Paulo, e revelou esses detalhes.
Agora, o filme Bingo: O Rei das Manhãs, com Vladimir Brichta no papel de Arlindo Barreto, traz uma visão glamourizada da carreira de sua carreira, mostrando os bastidores do programa do palhaço Bozo como algo que representava o auge do sucesso e a síntese da cultura popular à época.
“Eu era considerado o melhor Bozo. O primeiro foi demitido porque falava muito palavrão, os outros não gostavam muito de criança e faziam aquilo por dinheiro. Eu adorava ser o Bozo, só que não conseguia ter toda aquela alegria sem usar drogas”, admitiu Barreto.
Entretanto, o sucesso como palhaço custou caro a ele: “Minha mulher me abandonou e levou meu filho. Meu nariz começou a sangrar. Eu tinha que gravar os programas com um algodão no nariz”, lamentou o pastor, ao relembrar situações que foram consequência dos abusos cometidos ao interpretar o personagem.
Uma colega de trabalho evangelizou Arlindo Barreto, que foi apresentado a um pastor batista que o discipulou: “Só assim consegui largar as drogas”. Feliz por estar liberto do vício, o ex-palhaço criou o projeto Tenda da Esperança e começou a divulgar a mensagem de Jesus Cristo com a fantasia de Bozo.
“Eu vou até as regiões mais pobres de São Paulo levando alegria, auxílio médico e odontológico gratuito para as pessoas. Só agora encontrei o verdadeiro caminho do palhaço Bozo em minha vida”, contou à época ao jornal Notícias Populares.