Em referência aos mil dias de governo, o presidente Jair Bolsonaro concedeu uma entrevista avaliando as vitórias de seu mandato e reiterou sua convicção de que o pastor André Mendonça, indicado para o STF, terá seu nome aprovado pelo Senado.
Os jornalistas Augusto Nunes, José Maria Trindade e Guilherme Fiuza, da rádio Jovem Pan, foram recebidos pelo presidente no Palácio do Planalto para uma entrevista especial, de aproximadamente 1h30.
Questionado sobre o cenário em torno da indicação do pastor André Mendonça ao Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro afirmou que entende que as dificuldades são naturais em um ambiente ganancioso como o de Brasília (DF).
“O nome do André está tendo resistência por parte de alguns. Eu acredito que passe o nome dele. É o melhor nome dentro daquele compromisso que eu fiz de um ‘terrivelmente evangélico’. Não é o cara evangélico que sabe toda a Bíblia. O André sabe a Bíblia toda e conhece legislação muito bem”, introduziu Bolsonaro.
“É uma pessoa que tem tudo para dar certo no Supremo”, avaliou o presidente, antes de ser questionado sobre os obstáculos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para a sabatina do pastor.
“Quem não quer indicar um ministro do Supremo? Me diga. Eu não sofri pressão de ninguém pelo André. Assim [como] pelo Kassio, que eu conheci há aproximadamente dois anos. Era um nome que passaria com facilidade lá. Então, você tem que medir. Tome tubaína comigo, e passe por aquele gargalo que é o Senado”, acrescentou.
Trindade foi enfático e questionou “o que Alcolumbre está querendo” para dar seguimento ao processo de seleção do indicado ao STF, e o presidente aproveitou a pergunta para dar um recado:
“Falam muita coisa, eu não quero entrar em boatos. Todo mundo quer poder. Está confirmado o André. Inclusive, espalham boatos que eu estaria trabalhando contra o André. Não tem cabimento. Eu indiquei o cara. E se sair o André? No meu compromisso com os evangélicos, será outro evangélico. Eu acho que o André vai dar certo”, declarou.
Mil dias de governo
A chegada aos mil dias de governo, em meio a uma crise inflacionária decorrente das medidas adotadas por governadores e prefeitos para combater a pandemia, como por exemplo o lockdown, é avaliada pelo presidente como algo que precisa ser olhado com atenção, mas com saldo positivo.
“O governo, comparando com os outros e levando em consideração o que aconteceu com a pandemia, estamos numa crise hidrológica enorme – graças a Deus deu uma pequena chuva essa semana –, também tivemos a questão de geada, onde lambeu a safrinha de milho (que incide diretamente no preço do frango e dos ovos)… então, o governo está indo. Muitas coisas não dá para você planejar”, disse Bolsonaro.
A respeito do processo eleitoral, a aparente derrota na questão do voto impresso, é vista com outra perspectiva pelo presidente, que reiterou sua preocupação de que as fraudes não sejam viáveis.
“Nós queremos lisura. Se você votou no João, o seu voto foi para o João. A gente quer isso. Não conseguimos o voto impresso, que seria no meu entender a solução ideal. Ministro Barroso baixou uma portaria e convidou uma série de entidades para participar de todo o sistema eleitoral. Uma dessas instituições são as nossas Forças Armadas”, pontuou.
Na visão do presidente, o debate em torno da necessidade de auditoria do processo eleitoral, rendeu frutos, embora o desfecho não tenha sido a impressão de um comprovante do voto: “Nós estamos, via ministro Braga Netto, tratando desse assunto junto ao TSE. […] Eu tenho certeza que as Forças Armadas não vão aparecer como moldura desse quadro. Nós devemos ter acesso desde a primeira fase até a última fase. Se nós participarmos de todas as fases, com essas outras entidades, dá para você ter a credibilidade no sistema”.
“Temos um efetivo grande nas Forças Armadas, umas 200 pessoas só no Exército, que tratam dessa parte de informática. São pessoas extremamente competentes que, participando de todo o processo, sem exceção. […] Se não tivesse o debate do voto impresso, será que o Barroso teria baixado essa portaria e convidado as Forças Armadas?”, questionou.
“Muita gente teme a volta da esquerda. Eu também temo. Mas, se voltar pelo voto, paciência. Mas um voto realmente transparente”, disse Bolsonaro.
Intervenção
No 7 de setembro, parte da imprensa acusou o presidente de planejar uma intervenção no STF, hipótese que recebia apoio de parte dos eleitores. No entanto, Bolsonaro garantiu que nunca considerou tomar nenhuma atitude drástica como essa.
“Não! Eu sei bem o meu lugar. Eu sei que não estou representando a mim. Eu sei a importância de o Brasil continuar numa normalidade, vamos assim dizer. Sei disso. Você não pode dar um cavalo de pau num transatlântico. Sabia das consequências. Muito bacana, você sai carregado no colo naquele dia. E o dia seguinte? O 7 de setembro todo foi pensando no que fazer no dia seguinte, porque as expectativas eram enormes”, resumiu.
“Agora, as sinalizações que vieram do próprio Barroso nos dá uma certa tranquilidade. A questão dos inquéritos dos ‘atos antidemocráticos’, nós sabemos o que representa isso aí. Conversei com o Temer, demoradamente. Naquele dia conversei com Alexandre de Moraes. Já conversei umas cinco vezes com Alexandre de Moraes. ‘O que foi tratado?’ Me desculpe, agora é reservado”, finalizou.