O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, está nos Estados Unidos para uma reunião com o secretário de Estado do país, Mike Pompeo, onde debaterá a criação da Aliança Internacional para Liberdade Religiosa, um órgão que atuará no combate à perseguição religiosa.
O Brasil vem trabalhando ao lado dos Estados Unidos na fundação do órgão, que é visto como o pilar da nova política externa adotada pelos americanos desde a posse de Donald Trump.
Nas eleições, em 2016, o então candidato do Partido Republicano prometeu a seus eleitores que atuaria para combater a perseguição aos cristãos ao redor do mundo.
De acordo com informações do jornal Folha de S. Paulo, a cooperação entre Brasil e EUA nessa área é vista como ponto-chave da renovada relação enter os dois países desde que Jair Bolsonaro (PSL) assumiu a presidência da República. A iniciativa, no entanto, visa defender todas as religiões que sofrem com perseguição e intolerância em países onde há minorias sofrendo com conflitos dessa natureza.
“Estamos totalmente de acordo com o conceito e com o esforço de promover a liberdade religiosa para todas as religiões ao redor do mundo”, disse Araújo após uma reunião com Sam Brownback, embaixador dos EUA para Liberdade Religiosa, na última quarta-feira, 11 de setembro.
Amanhã, sexta-feira, 13 de setembro, Araújo se reunirá com Mike Pompeo, que recentemente destacou a situação enfrentada pelos cristãos na China. O secretário de Estado dos EUA declarou que o país asiático de governo comunista é “a mancha do século” em relação ao tema, já que as autoridades reprimem os fiéis cristãos, assim como os budistas tibetanos e os muçulmanos uigur.
Knox Thames, conselheiro especial do Departamento de Estado para Minorias Religiosas, afirmou que “o Brasil é uma voz importante e tem relacionamentos com países como o Irã”, o que torna ainda mais relevante sua participação na fundação do órgão. “Poderia pressionar pela libertação de prisioneiros cristãos e bahai no Irã, exortando o país a fazer reformas”, exemplificou.
Em julho, houve uma reunião sobre perseguição religiosa na ONU, com participação da pastora Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, e do pastor Sérgio Queiroz, secretário nacional de Proteção Global do ministério.
Na ocasião, Damares declarou sentir-se “particularmente apreensiva com a perseguição contra cristãos” ao redor do mundo, mas mencionou que o Brasil, internamente, dará atenção especial às religiões de matriz africana.
Esse evento contou com delegações de 106 nações, com representantes de diversas religiões. Irã, China e Arábia Saudita, que são considerados algumas das nações com piores históricos de perseguição religiosa, não compareceram. Israel, Emirados Árabes e Egito, em contrapartida, estiveram presentes.
“As pessoas acham que lutar por liberdade religiosa é só luta pelos cristãos, mas isso não é verdade; tratamos de todas as religiões —as de matriz africana são perseguidas na América Latina, muçulmanos na Europa e, no Oriente Médio, o maior alvo são os cristãos”, disse Sérgio Queiroz. “Mas é que, em números totais, a religião mais perseguida do mundo é a cristã”, acrescentou.
Um estudo do Pew Research Center divulgado julho último sustenta a declaração de Queiroz. Os dados mostram os cristãos como grupo religioso perseguido em 143 países, contra 140 de muçulmanos.
Queiroz entende que os EUA têm legitimidade para conduzir os diálogos na Aliança Internacional para Liberdade Religiosa, pois há anos são os maiores defensores do debate sobre a liberdade religiosa no contexto político: “Lá, existe uma resistência grande [à perseguição] de setores religiosos, que querem levar a religião para a arena pública. O Brasil é um país laico, mas isso não significa que a religião deva ser retirada da esfera pública, que a fé não possa fazer parte do debate”.
Ernesto Araújo, meses atrás, deu o tom da visão do governo brasileiro sobre o assunto, em um artigo publicado em seu blog com críticas aos partidos de esquerda: “O projeto da esquerda em sua atual metamorfose pretende destruir a família, apagar a religião e controlar a linguagem ao ponto de reduzi-la ao balbucio de frases feitas”, escreveu na ocasião.