A escola de samba Mangueira entrou de vez no confronto contra o conservadorismo, e para o próximo ano, pretende usar a figura de Jesus Cristo em seu discurso político, como forma de atacar o pensamento e postura social que despreza.
O sambista Leandro Vieira revelou que sua intenção é de combate ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) e à ala conservadora da sociedade, que se juntou em um movimento de repúdio à erotização infantil, ideologia de gênero, corrupção generalizada e privilégios de diferentes classes, em especial, dos políticos e artistas, que eram abastecidos generosamente via Lei Rouanet.
O carnaval da Mangueira em 2020 trará um enredo que alega vilipendiar a figura de Cristo em nome de supostamente denunciar o que os militantes progressistas classificam como distorção de valores do Evangelho. E de quebra, faz uma defesa do socialismo: “Favela, pega a visão/Não tem futuro sem partilha/Nem Messias de arma na mão”, diz trecho da letra composta por Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo.
De acordo com informações do portal Uol, além da menção ao presidente Bolsonaro, a letra cita os desempregados do país – que são herança dos anos de desmando nos governos petistas – e faz a velha mistura de catolicismo com religiões de matriz afro.
“Comecei com essa linha na Mangueira, quando anunciamos para 2018 um enredo combativo e de embate frontal com essa questão política. ‘Com Dinheiro ou Sem Dinheiro, Eu Brinco’ era um claro confronto entre o Carnaval, as escolas de samba e o conservadorismo. Não era apenas um Carnaval contra o prefeito [Marcelo Crivella – PRB], mas contra o conservadorismo, traduzido na figura do prefeito do Rio de Janeiro, que é um cara extremamente conservador, com essa mistura explosiva de política e religião”, disse Leandro Vieira.
“Em 2019, mantive esse caminho, em 2020 eu vou continuar nessa trilha”, garantiu o sambista. “Desde 2018 percebia sintomas do avanço do pensamento conservador. O que tenho feito desde então é, através do Carnaval e da arte que eu produzo, mostrar opções contrárias ao conservadorismo. Naquele ano, o prefeito representava a chegada da ideologia evangélica à gestão municipal da capital cultural do país”, acrescentou, admitindo que se coloca como adversário não apenas do movimento conservador, mas também do segmento evangélico da sociedade.
“Houve esse avanço da ideologia da ultradireita, que reduz e minimiza as questões indígenas, a participação popular, a discussão do racismo. Fiz um enredo que combateu isso, entrando de sola no Escola Sem Partido”, anunciou, colocando-se, também, contra o projeto que visa combater a doutrinação política nas salas de aulas incentivando o debate isento.
Leandro Vieira, por fim, reitera sua posição de confronto, usando a Mangueira – uma das mais icônicas escolas de samba do carnaval do Rio de Janeiro – como ferramenta política: “Sigo combatendo o conservadorismo, a partir de uma figura que os conservadores levaram para sua trincheira: Jesus Cristo. Discuto o sequestro da narrativa cristã, que tornou Jesus a figura principal da direita brasileira de hoje”.
“Os valores cristãos foram deturpados pela direita atual. Temos hoje uma figura importante que é o presidente da República, que vai na Marcha Para Jesus e se permite ser fotografado fazendo arminha com a mão. Então, eu proponho uma narrativa de Jesus contra essa hegemonia que distorce os valores cristãos”, concluiu.