BRASÍLIA – Bandidos sacavam dinheiro da aposentadoria de Darlete Santos. Denúncia anônima levou a polícia ao local, onde também estava o filho da vítima.
Uma denúncia anônima levou, nesta terça-feira (9), a Polícia Civil do Distrito Federal a uma casa onde Darlete Santos Coimbra foi mantida em cárcere privado por dois anos. De acordo com a polícia, a mulher, de 30 anos, era mantida refém em condições subumanas, ficando em um pequeno cômodo de uma residência no Setor de Chácaras da Ceilândia, cidade a 25km de Brasília. Darlete foi levada ao Hospital Regional da Ceilândia, onde está internada.
A vítima foi encontrada suja e machucada, com hematomas e várias queimaduras por todo o corpo. A polícia acredita que Liomar Santos Rangel e Valdemar Francisco Ribeiro usavam os documentos da refém para se beneficiar de uma aposentadoria de Darlete, que tem problemas mentais e era amparada pelo governo. “A senha e o cartão da vítima estavam separados. Isso demonstra que o próprio casal fazia o saque mensalmente”, diz o delegado Hailton da Silva Cunha.
De acordo com a polícia, Liomar Santos e Valdemar Ribeiro ameaçavam o filho de Darlete, de 8 anos, que também foi encontrado na casa. Assim, o recadastramento nos postos do INSS era feito com a presença da vítima, que assinava os papéis necessários, com o intuito de proteger o filho.
Na casa, foram encontradas outras três crianças. Liomar e Valdemar alegam que são filhos do casal, mas a polícia vai pedir um exame de DNA.
Missionários de igreja
A mãe de Darlete, Dalva Pereira dos Santos, prestou depoimento, afirmando que a filha foi iludida pelo casal. Liomar e Valdemar teriam se passado por missionários de uma igreja e prometido ajudar a vítima. “Uma amiga dela me contou que uma senhora disse que cuidaria dela. Eu perguntei como era essa senhora e ela disse que era uma mulher morena e que ela me conhecia há dez anos. Só que eu não conheço essa pessoa”, conta a mãe de Darlete.
Dalva registrou uma ocorrência reclamando do desaparecimento apenas um ano depois do sumiço de Darlete. Ela diz que não procurou antes ajuda da polícia porque recebeu uma carta da filha, dizendo que iria para a Bahia. A suspeita é de que a carta tenha sido escrita pelos seqüestradores.
Casal nega ter maltratado mulher
O casal preso negou que Darlete dos Santos Coimbra fosse vítima de maus tratos, apesar dos ferimentos que a mulher apresentava. Ambos alegaram ainda que Darlete morava na casa por livre e espontânea vontade. Valdemar acusou a esposa de fraudar os documentos e disse que desconhecia os saques feitos irregularmente. “Eu sabia das certidões das meninas. De documentos alterados (de Darlete), não”, disse. A mulher confirmou a informação.
A carteira de identidade de Darlete dos Santos Coimbra tinha um recorte no lugar da foto, para que pudesse ser usada a fotografia dela ou de Liomar, conforme fosse conveniente. A polícia também encontrou, na residência do casal, uma carteira de trabalho de Liomar Rangel com a foto de Darlete Coimbra e uma procuração registrada em cartório, em que a vítima dava poderes a Liomar para agir em seu nome, além de um cartão do Bolsa Família em nome da falsa pastora evangélica e um cartão da Previdência Social no nome de Darlete. Liomar disse simplesmente que a polícia “teria que provar” que ela era culpada.
“Só recebo benefício das minhas filhas”, afirmou. A acusada que admitiu que vive com cerca de R$ 600 referentes a programas sociais. Liomar dos Santos Rangel disse também que mudou as certidões de nascimento das garotas para que Valdemar, que é seu segundo companheiro, constasse como pai. “Ele só é pai da mais nova, queria que fosse das mais velhas”, afirmou. Valdemar e Liomar responderão por seqüestro, cárcere privado, tortura qualificada, falsidade ideológica e estelionato.
Fonte: G1