O mais recente caso de ataque à fé cristã, com o escárnio da Santa Ceia na abertura das Olimpíadas de Paris, motivou o pastor Pedro Pamplona a rebater uma ideia recorrente no meio cristão de que não se deve reagir ao escárnio da mensagem do Evangelho: “A Bíblia não ensina isso”.
A repercussão negativa da paródia com a Santa Ceia na cerimônia de abertura das Olimpíadas levou os organizadores do evento a pedirem desculpas aos cristãos no último domingo, 28 de julho: “Claramente, nunca houve a intenção de demonstrar falta de respeito a qualquer grupo religioso […] Se as pessoas se sentiram ofendidas, claro, lamentamos muito”, disse Anne Descamps, diretora de comunicações do evento.
O pedido de desculpas veio após uma intensa manifestação de cristãos de todo o mundo em reprovação ao escárnio feito à Santa Ceia através da paródia da pintura feita por Leonardo da Vinci, A Última Ceia.
Entretanto, em casos assim, é recorrente encontrar quem opine a favor de apenas ignorar as ofensas, o que segundo o pastor Pedro Pamplona, da Igreja Batista Filadélfia, de Fortaleza (CE), a Bíblia encoraja aos seguidores de Jesus uma postura combativa à cultura mundana:
“Sempre que acontece uma zombaria ou um ataque público à fé cristã que dê mais repercussão, a gente escuta algumas coisas de cristãos, de que nós não podemos nos chocar e nos surpreender ‘porque isso já esperado’, ‘a Bíblia fala sobre isso’, ‘não deve nos chocar’. E alguns cristãos falam também que nós não podemos responder, entrar no embate, dar a nossa opinião ‘porque isso não demonstra amor’, ‘isso é dar palco e é exatamente o que eles querem’, […] ‘não é dar a outra face, precisamos ficar calados e não responder’”, descreveu.
Segundo Pamplona, isso é um equívoco: “Eu me pergunto, sempre que isso acontece – quando eu leio ou escuto essas opiniões – onde os crentes aprenderam isso? Porque na Bíblia, não foi”.
“Tanto no Antigo Testamento, com o ministério profético, quanto no Novo, com o ministério apostólico, eles nunca ficaram silenciados por obrigação de não responder aos pecados culturais ou às zombarias. Pelo contrário”, acrescentou o pastor.
Babilônia
O texto bíblico, pontuou, é enfático em mostrar que o escárnio é algo reprovado por Deus: “Os profetas respondiam aos pagãos e respondiam às zombarias dos outros povos. Respondiam aos pecados culturais do próprio povo de Deus e dos outros povos. A Bíblia, inclusive, chama de Babilônia todo esse outro reino que é contrário ao reino de Deus, ao reino de Cristo, todas as outras culturas que se colocam como contrárias e da fé cristã. É o reino da Babilônia”.
Citando Isaías 13 como exemplo, Pamplona afirma que há passagens bíblicas “que respondem com dureza o reino da Babilônia”: “Elias respondeu aos profetas de Baal. Não ficou calado”, argumentou.
“Quando nós vamos ao Novo Testamento, Paulo falou dos pecados culturais e das idolatrias culturais da cidade de Corinto, por exemplo. Paulo entrou em embate direto com Elimas, o mago que resistia ao Evangelho e fazia oposição frente à sociedade ao Evangelho. Ele foi para o embate, ele não silenciou, ele respondeu. O texto ali é bem duro, inclusive”, pontuou, expandindo o campo de análise.
O apóstolo Paulo, em Efésios 5, “diz que nós não devemos ser cúmplices das obras das trevas”, disse o pastor, enfatizando que o texto do versículo 11 cobra uma postura de oposição: “Diz ‘tratem de reprova-las’. Reprovem essas coisas. Nós não encontramos essa ideia de que nós devemos nos silenciar em nome do amor, do equilíbrio e da moderação”.
Mandato cultural
Na avaliação do pastor, a omissão diante de manifestações que se opõem ao reino de Deus é entendida pelo mundo como uma abdicação do direito de se posicionar, e a consequência é se tornar irrelevante:
“Os cristãos se silenciam demais. Esse que é o problema. Os cristãos perderam a fala, perderam a autoridade no ambiente social e cultural. Nós não nos posicionamos. Nós precisamos nos posicionar. Lutar pelo respeito à nossa fé, pela nossa liberdade religiosa, pela nossa participação cultural”, frisou.
Essa irrelevância e desrespeito se evidenciaram no caso do maior evento esportivo do planeta, em que pesos e medidas diferentes foram aplicadas à mesma questão: “Porque nós podemos ter um evento com tantas ideologias representadas, tantas vertentes, mas um atleta – o Chumbinho – do nosso surfe não pode entrar com a prancha que tem o desenho do Cristo Redentor, que é o principal símbolo turístico do nosso país? Só porque é um símbolo cristão? Então, eles podem usar da Ceia do Senhor, daquela maneira, mas um atleta não pode entrar com uma prancha de surfe onde tem o Cristo Redentor desenhado? Por que não?”, questionou.
“Por que não podemos falar? Por que temos que ficar calados diante dessas coisas? Temos que nos posicionar, sim. De maneira santa, de maneira amorosa, de maneira respeitosa, mas sendo duros quando precisa ser. Falando as verdades que nós precisamos falar. A Bíblia nunca mandou silenciar os seus profetas. Jamais, pelo contrário: nós precisamos reprovar as obras das trevas. E se você não se choca com os pecados culturais, tem algo errado com você. Não é porque isso é esperado, que quando acontece a gente não se choca, não acha estranho e não responde. A Bíblia não ensina isso. Ser amoroso, moderado, equilibrado não é igual a ficar em silêncio”, concluiu.