Desde 2004, quando lançou seu primeiro CD gospel, o ótimo Reverência – que ainda ecoa como um dos grandes lançamentos do gênero nesta década – Chris Durán tem se revelado um artista acima da média, melhor ainda que na época da fama e do glamour na música popular.
Mas o novo trabalho do cantor francês, Ao Vivo (Topgospel), lançado em CD e DVD, ainda precisa dizer a que veio. Com apenas dois discos evangélicos na carreira – Reverência e Renúncia, de 2005 – Chris Durán carecia, e ainda carece, de mais bagagem para gravar um projeto como este.
O reflexo dessa falta de experiência está em toda a estrutura do DVD, a começar pelo repertório. Numa época em que os discos audiovisuais contêm entre 20 e 30 músicas, Chris Durán gravou apenas 11, num show realizado em julho de 2006, no Teatro Municipal de Niterói (RJ). A versão em CD, que por questões mercadológicas geralmente é menor, tem o mesmo número de faixas.
O projeto não inclui músicas inéditas, o que também é de praxe no formato DVD. E o set list, que poderia ter sido balanceado entre os dois CDs do cantor, pendeu inteiramente para o mais novo. Oito das nove faixas de Renúncia foram regravadas, restando as outras três para o repertório de Reverência.
A pressa, é claro, prejudicou a produção do DVD. As imagens estão muito ruins, granuladas e com as luzes estouradas em vários momentos. As várias cenas em preto-e-branco não se justificam, e as câmeras não souberam aproveitar toda a beleza do Teatro Municipal niteroiense, que também serviu de cenário para o lindo DVD O Mundo Me Fez Assim, da sambista Teresa Cristina.
A ordem das músicas aparece trocada na contracapa e na ficha técnica do DVD, mas está certa na tela, na opção de seleção de músicas. Uma delas ainda está escrito errado – Renova em Mim, e não “Renova-me”, é a faixa 5, e não a faixa 7, como indicado. Já a música Amigo do Senhor vem creditada a Israel (sem o sobrenome Houghton), mas na ficha técnica de Renúncia também consta o nome de Michael Gungor.
Além disso, o DVD não tem legendas e o áudio é apenas 2.0, enquanto a maioria dos discos oferece outras opções melhores para o espectador, como DTS Surround 5.1 e Dolby Digital 5.1.
Participação de David Quinlán
Apesar das falhas, o DVD vale pelas músicas, todas muitos boas. As releituras não se prenderam às versões originais, o que é a garantia de algum diferencial em relação aos dois CDs. Pontos também para a banda, excelente, com destaque para os backing vocals e os instrumentos de cordas e sopros.
O show começa animado, com as músicas Toda Terra e Vestes de Louvor, esta última em versão bem diferente à original de Asaph Borba. A canção seguinte, Rei da Criação, vale-se de um shofar, instrumento feito de chifre de carneiro, que vem se tornando cada vez mais popular no meio gospel, principalmente depois de usado por Fernanda Brum no CD e DVD Profetizando às Nações.
A partir da quarta música, Filho de Verdade, o show vai ganhando ares de culto, inclusive com ministrações. O ponto alto desses momentos acontece em Sua Presença É Real, que tem a participação do cantor David Quinlan e do músico Matheus Ortega, tocando flauta celta, instrumento pouco utilizado no Brasil.
Durante a música, Chris Durán fica quase o tempo todo ajoelhado, em oração. Depois, levanta-se e começa a cantar e ministrar em francês, pregando para seus conterrâneos.
Como destaca David Quinlan, no making of, é incrível a autenticidade de Chris Durán. Nada do que ele fala ou canta soa falso. Essa característica, tão importante na vida de um artista cristão, reflete-se no palco, onde o cantor mostra-se completamente à vontade.
Na tela, é visível a evolução de Chris Durán em apenas dois anos de música gospel. Mas ainda não estava na hora de um DVD. E mesmo que estivesse, ele merecia mais que um bonito projeto gráfico.
Por Marcos Paulo Bin do site Universo Musical