INDONÉSIA – Três extremistas islâmicos foram sentenciados por uma corte de um distrito ao sul de Jacarta a penas que variam de 10 a 19 anos de prisão por decapitarem três adolescentes cristãs e por atirarem em outras duas – que não morreram – num ato de violência em 2005.
Rahman Kalahe foi condenado a 19 anos de prisão, Agus Nur Muhammad a 14 anos e Yudi Heryanto a 10 anos depois de considerá-los culpados pela morte de Theresia Morangke e Yarni Sambue, ambas com 15 anos, e Alfita Poliwo com 17 anos.
Os homens atacaram as meninas quando elas iam para a escola no distrito de Poso, em Sulawesi, no dia 29 de outubro de 2005. Uma quarta menina também foi atacada, Noviana Malewa, então com 15 anos, sofrendo sérios ferimentos em seu rosto e pescoço, mas ela sobreviveu.
Heryanto e Muhammad foram declarados culpados de terem premeditado o crime, observando as meninas para então decapitá-las.
Kalahe também foi declarado culpado de envolvimento em um ataque à bomba a um mercado em Palu, em 31 de dezembro de 2005, no qual morreram pelo menos oito pessoas.
Antecedentes
Abdul Muis também foi condenado por este crime e recebeu uma sentença de 19 anos. Os dois homens também foram condenados pelo assassinato do Rev. Irianto Kongkoli e de dois estudantes em 2006.
Além disso, a corte declarou Syaiful Anam e Amril Niode culpados de colocar uma bomba num mercado na cidade de Tentena, habitada por cristãos, no distrito de Poso, em maio de 2005, sendo que Anam recebeu pena de 18 anos de prisão e Niode de 15 anos. A corte está tentando provar a cumplicidade separadamente no ataque.
Em contraste com as sentenças dadas pela decapitação das três meninas, em setembro de 2006 a Indonésia executou através de pelotão de fuzilamento três católicos – Fabianus Tibo, Marinus Riwu e Dominggus da Silva – cuja responsabilidade pela violência nos tumultos em Poso em 2000 era muito menos evidente.
A pena de morte foi executada apesar de protestos internacionais sobre irregularidades no julgamento.
Assassino confesso
Depois dos assassinatos das adolescentes em Poso, suas cabeças foram enroladas em sacos plásticos pretos; uma foi deixada nos degraus de uma igreja perto da vila de Kasiguncu e as outras duas perto da delegacia de polícia a cinco milhas da cidade de Poso.
Os sacos continham uma nota declarando: “Nós iremos assassinar mais 100 adolescentes cristãos e suas cabeças serão mostradas como presentes”.
De acordo com a confissão do extremista islâmico Lilik Purnomo, as decapitações foram planejadas como um “presente” para celebrar o Idul Fitri, um festival que marca o fim do mês de jejum do Ramadã.
Os acusados testemunharam que as decapitações foram realizadas para vingar as mortes de muçulmanos durante os conflitos religiosos em Sulawesi Central, entre 1998 e 2001.
Em um relato por escrito à Corte do Distrito de Jacarta Central em janeiro, Purnomo também confessou ter participado de outros ataques violentos em Poso: uma bomba na Igreja Emanuel, decapitação de um líder da vila, e ataque a tiros a Ferry Silalahi, um advogado cristão que defendeu o Rev. Rinaldy Damanik.
No início deste ano, Purnomo (apelido Haris ou Arman) foi sentenciado a 14 anos pela sua participação nas decapitações, assim como Irwanto Irano. Purnomo admitiu que ele havia trabalhado com Kalahe.
Antes de começar o ataque, testemunhou Purnomo, ele e os outros cúmplices compraram seis machadinhas com o dinheiro que um extremista islâmico conhecido pelo nome de Hasanuddin havia dado.
Purnomo também comprou os sacos pálsticos que usou depois para enrolar as cabeças das vítimas. Depois do ataque, disse, ele levou as cabeças das vítimas para Hasanuddin.
Em março, Hasanuddin recebeu uma sentença de 20 anos por planejar o assassinato das meninas.
Assassinatos anteriores
A confissão de Purnomo no ano passado incluiu o ataque a tiros a Rev. Susianty Tinulele, então com 26 anos. Ela recebeu os tiros durante o culto na Igreja Cristã de Sulawesi Central (GKST) em Efatah em 18 de julho de 2004 ( leia mais).
Rev. Tinulele tinha acabado de pregar naquela noite de domingo quando um homem usando uma máscara preta apareceu na porta e atirou na congregação. Ela morreu instantaneamente. Um membro do coral, Desrianti Tengkede de 17 anos, foi baleado na testa e morreu na manhã seguinte.
Quatro outros membros foram baleados mas com ferimentos não-fatais. Testemunhas disseram que outros três homens esperavam do lado de fora da igreja e todos fugiram junto com o atirador imediatamente depois do ataque.
Rev. Tinulele tinha sido ordenada como ministro na igreja GKST. Ela apoiava o Rev. Rinaldy Damanik, outro ministro da GKST que ficou preso sob acusações falsas como muitos acreditam. Tinulele foi visitar Damanik em prisão em 16 de julho, dois dias antes de ser baleada.
Rev. Damanik é um signatário chave do Acordo de Paz de Malino, assinado por representantes cristãos e muçulmanos em dezembro de 2001 como um esforço para terminar com a violência que começou em Sulawesi em 1998.
As autoridades o liberaram antecipadamente de sua cela em Palu, Sulawesi, em 9 de novembro de 2004.
O conflito entre as comunidades muçulmanas e cristãs em Sulawesi Central começou em 2000 e continuaram até o acordo de paz que foi assinado em dezembro de 2001. Atos de violência esporádicos continuam acontecendo desde então, com a maioria das vítimas sendo cristãos.
Fonte: Portas Abertas