Se a pandemia do novo coronavírus provou alguma coisa, é que a fome e a pobreza devem ser enfrentadas por meio de esforços criativos e colaborativos entre o governo, o setor privado, indivíduos e organizações religiosas, conforme avaliação do líder de um programa social.
Jeremy Everett, diretor executivo da Baylor University Collaborative on Hunger e Poverty (“colaboração contra fome e pobreza”, em tradução livre), revelou que uma iniciativa da qual a universidade cristã participou distribuiu 38,7 milhões de refeições para 270 mil crianças afetadas pela suspensão das aulas.
“A fome e a pobreza são grandes demais para qualquer organização resolver. Isso levará nossos melhores e mais brilhantes líderes e nossos ativistas, igrejas e organizações sem fins lucrativos mais engajados para abordar ”, disse ele.
O esforço em conjunto no programa colaborativo entre março a agosto deste ano é decorrente de outra iniciativa bem-sucedida: em 2019, 475 mil refeições foram servidas a 4 mil alunos do estado do Texas (EUA).
Com o início da pandemia, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) solicitou à Baylor Collaborative que ampliasse o programa em todo o país. O esforço expandido atingiu 270.483 crianças em 43 estados, segundo um relatório da universidade.
Conforme informações do portal Baptist News Global, os grupos participantes não mediram esforços para entregar refeições às crianças cujo acesso regular à merenda escolar foi interrompido pela pandemia: “Algumas das escolas ficavam no Círculo Polar Ártico, que eram alcançadas por helicóptero ou por barcaça”, comentou Everett.
Para aumentar seu esforço, a colaboração estabeleceu ou expandiu alianças com empresas privadas e grupos públicos. O USDA forneceu US$ 200 milhões para financiar a operação: “Nossa equipe construiu um sistema totalmente novo utilizando programas existentes, ativos do governo, serviço postal, [a empresa] UPS e outros”, acrescentou o diretor.
Multiplicação
Assistentes sociais escolares foram fundamentais em muitos locais, rastreando famílias cujos filhos poderiam se enquadrar nos requisitos do programa. “Isso fez com que todos utilizassem suas habilidades, seus dons e as habilidades únicas de seus setores para levar refeições para essas crianças. São pessoas e empresas que tiveram que trabalhar juntas em circunstâncias muito difíceis para superar tantos problemas”, disse Everett.
A conclusão é que a fome pode ser diminuída com o financiamento certo e o trabalho em equipe:“Sim, podemos acabar com a pobreza e a fome se quisermos. Podemos fazer coisas ainda maiores do que alimentar 5 mil se trabalharmos juntos”, declarou, fazendo referência ao milagre da multiplicação dos pães e peixes.
A insegurança alimentar – definida como uma interrupção da ingestão de alimentos devido à necessidade financeira – foi potencializada durante a pandemia, e o ensino à distância aumentou os casos de fome entre crianças, pois elas deixaram de ter acesso à merenda escolar, além de obrigar pais a faltarem ao trabalho ou a pagar por creches, reduzindo o orçamento doméstico.
“Eu penso nisso como uma equação: desemprego mais subemprego mais volatilidade de renda mais pandemia é igual a fome”, alertou. “Qualquer coisa que possamos fazer agora para fornecer comida é importante”, finalizou.