Na reta final da campanha eleitoral para a prefeitura de São Paulo, o socialista Guilherme Boulos (PSOL) encontrou-se com evangélicos simpatizantes de seu partido para transmitir suas percepções a respeito da atuação deste segmento na capital paulista.
O encontro, realizado na última quarta-feira, 11 de novembro, aconteceu com um grupo de fiéis que já milita na esquerda. A penetração do candidato junto ao público evangélico é mínima, e numa comparação com outro candidato socialista, Márcio França (PSB), que recentemente foi recebido numa reunião com 500 pastores.
De acordo com informações do portal Metrópoles, Boulos não pratica nenhuma religião, o que tende a ser um eufemismo quando se trata de políticos de esquerda. Afirmar ser ateu nunca é bem-visto em termos eleitorais, principalmente junto aos eleitores católicos e evangélicos.
“Aqui não tem empresa que vende fé, não, aqui é a igreja de verdade, aqui é o povo de Deus”, afirmou o pastor e cantor Armando Silva, explicando o motivo de, entre aproximadamente 20 pessoas, não haver nenhum representante de liderança de nenhuma denominação.
Membro de uma congregação da Assembleia de Deus, Silva disse que “infelizmente, muitas pessoas distorcem a palavra do Senhor Jesus na política”, o que leva a uma percepção por parte de algumas pessoas de que há “muita intolerância, falta de visão das necessidades do povo e divisão nas famílias” entre os evangélicos.
Grande parte da plateia de duas dezenas de fiéis era formada por donas de casa e jovens, que usavam a camiseta estampada com a frase “Eu sou evangélico, não sou homofóbico, não sou racista, não sou fascista”, demonstrando que o candidato falava apenas para militantes de esquerda.
Derrotado por Jair Bolsonaro em 2018, Boulos aproveitou a oportunidade para alfinetar o presidente: “Muitos de vocês estão aqui porque não estão satisfeitos com Jair Bolsonaro, a posição dele é de ódio e nada tem a ver com a fé cristã”, acusou. “Eu tenho fé que nós vamos para o segundo turno”, acrescentou o candidato, que fez fama de invasor de propriedades em sua militância junto a movimentos políticos representantes de pessoas sem-teto.
O uso do termo “fé” não foi a única tentativa de Guilherme Boulos de demonstrar algum entrosamento com o tema. Afirmou em sua dissertação de mestrado que as práticas religiosas têm “efeito terapêutico, com resgate de autoestima e criação de sentimento de comunidade”.
Conduta
Para os evangélicos entusiastas de sua candidatura, Boulos foi elogiado por suas “propostas voltadas para o social” e por viver em união estável com a também ativista Natalia Szermeta, com quem tem duas filhas, uma de 6 e outra de 8 anos.
“As reivindicações dos evangélicos são as mesmas das pessoas que moram na periferia. Quando uma pessoa está na fila do posto de saúde, ninguém pergunta se é evangélico ou se é católico”, disse o candidato, que disputa a vaga no segundo turno com Celso Russomanno (Republicanos) – candidato com apoio maciço da Igreja Universal do Reino de Deus – e Márcio França (PSB).
De acordo com pesquisas de intenção de voto, Boulos conta com 6% da preferência entre evangélicos, bem atrás de Bruno Covas (PSDB), que conquista 37% dos evangélicos, ou de Celso Russomanno, que tem 17% das intenções de voto nesse segmento.