CIDADE DO VATICANO – Um alto clérigo do Vaticano aconselhou nesta sexta-feira, 6, que as mulheres parem de tentar agir como homens para se firmar na sociedade. Ao mesmo tempo, expressou esperanças de que o mundo entre na “era das mulheres, do coração, da compaixão”.
A recomendação foi feita pelo padre Raniero Cantalamessa, durante sermão na presença do papa Bento XVI, na Basílica de São Pedro nesta Sexta-Feira Santa. A missa é uma principais da Páscoa, que é o auge do ano Cristão. Com manda a tradição, não foi o papa que celebrou a missa.
Ainda na noite desta sexta-feira, Bento XVI fará uma homenagem às mulheres “humilhadas, violentadas e marginalizadas”, durante a cerimônia de recordação da Via Crucis, o caminho que Jesus Cristo percorreu até o calvário.
Em seu sermão, Cantalamessa, que é Pregador da Casa Pontifícia, fez várias referências ao papel das mulheres na sociedade, e pediu que elas evitem tentar apagar as diferenças entre os sexos. “Para afirmar sua dignidade, elas sentiram necessidade de assumir comportamentos masculinos, ou minimizar as diferenças entre os sexos”, afirmou.
Ele ressaltou que nenhuma mulher foi responsável pela morte de Cristo, apenas homens, e que as discípulas seguiram Cristo não porque buscavam poder, mas porque acreditavam nele em seus corações. “Esse é o motivo para ter esperanças de que a humanidade finalmente entre na era das mulheres: uma era de coração, de compaixão”, disse.
Cantalamessa também lamentou o fato de as pessoas tentarem aprimorar mais sua capacidade intelectual do que sua capacidade de amar porque “o conhecimento se traduz automaticamente em poder; o amor, em doação”. “Devemos dar mais espaço à “razão do coração” se quisermos evitar que nosso planeta – mesmo enquanto esquenta fisicamente – entre numa era do gelo espiritual”, declarou.
Via Crucis
A missa da “Paixão de Cristo” foi o primeiro dos dois eventos da Sexta-feira Santa na qual o papa alemão de 79 anos, que se aproxima da segunda Páscoa de seu pontificado, celebra a crucificação e a morte de Cristo.
O segundo evento, a procissão da Via Crucis, será próxima às ruínas do Coliseu romano esta noite. A homenagem às mulheres está na meditação da nona estação, quando Jesus encontra as mulheres de Jerusalém.
A Via Crucis recorda as principais etapas do caminho de Jesus antes da crucificação, entre o Horto das Oliveiras e a deposição de seu corpo no sepulcro, depois de morto.
O percurso é feito todos os anos, em Roma, em procissão liderada pelo papa, que no final manda uma mensagem para os fiéis. No caminho, que termina no Coliseu, símbolo do martírio dos primeiros cristãos na época de Roma antiga, uma pessoa carrega a cruz para recordar Cristo.
Estações
O caminho é dividido em 14 estações, ou paradas. Em cada uma delas se relembra os últimos instantes da vida de Jesus, como a traição de Judas, o julgamento de Pilatos, a flagelação e a coroação com espinhos, crucificação e morte.
A referência a temas da atualidade não é nova. Dois anos atrás, na última cerimônia do pontificado de João Paulo II, o autor dos textos das meditações foi o então cardeal Joseph Ratzinger, depois elevado a papa.
As palavras de Ratzinger foram muito duras e provocaram grande repercussão quando ele falou sobre a “sujeira na Igreja”. A mensagem foi interpretada como sendo uma condenação aos sacerdotes envolvidos em casos de pedofilia.
As missas de Páscoa, no sábado à noite e no domingo, transmitirão bênçãos e uma mensagem Urbi et Orbi – “à cidade e ao mundo.”
Com BBC