Um grupo de evangelistas da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) visitou uma tribo indígena na região de Itacuruba (PE), mas a liderança do grupo reagiu negativamente e expulsou os evangélicos. Agora, a cacica da tribo protocolou uma representação no Ministério Público contra a denominação.
A tribo de Pankará de Serrote dos Campos, na zona rural de Itacuruba, foi alvo de uma ação Evangelístico de uma congregação da ADVEC Caxangá. A região fica a quase 500 quilômetros de Recife e o grupo era formado por aproximadamente 50 fiéis, que viajaram em um ônibus alugado.
De acordo com informações do portal de esquerda Diário do Centro do Mundo (DCM), os indígenas discutiram entre si, o que gerou tensão, já que a tribo é dividida entre dois pequenos grupos, e a cacica comparou a presença dos evangélicos ao processo colonizador realizado à época da descoberta do Brasil.
“Estão impondo uma religião absurda que vem para massacrar e acabar ainda mais com a nossa, que já está tão fragilizada há mais de 500 anos, e que os povos indígenas deste país vêm lutando para resgatar e fortalecer”, declarou a cacica Lucélia Pankará, segundo o DCM.
“O pastor [que se chama Alexandre e a cacica não soube informar o sobrenome] conseguiu comprar apoio dos outros grupos com presentes. Eu me vi com meus ancestrais há mais de 500 anos sendo comprados com presentes. É por causa disso que perdemos muito dos nossos traços, da nossa religião e das nossas tradições. Porque, quando índios são evangelizados, eles perdem tudo isso porque a igreja não permite”, queixou-se a líder indígena.
A tribo Pankará requere a demarcação de um território no entorno da tribo há aproximadamente 15 anos, e parte da área pretendida é submersa, pois foi inundada durante a construção da Barragem de Itaparica/Luiz Gonzaga, em Petrolândia, em 1988.
“Eles [evangelistas] chegaram de manhã, nós não estávamos esperando. Nossa aldeia tem duas organizações sociais, mas uma atividade desse tipo precisa da concordância dos dois grupos”, explicou a cacica Lucélia.
Ela protocolou uma queixa no Ministério Público Federal e reprovou as doações feitas pelo grupo da ADVEC, que levou brinquedos, roupas e alimentos para os indígenas. Lucélia alega que os evangelistas fizeram fotos e vídeos da ação e das casas sem consentimento.
“O mais chocante é como um pastor que diz ser evangelizador não tem discernimento para entender que não queremos ele nesse espaço e chega aqui com brinquedos, roupas, calçados e cestas básicas. Essa é uma imagem que não existe em Serrote dos Campos, é uma ficção”, esbravejou a cacica.
Depois da reprovação sobre a presença dos evangélicos na região, o grupo decidiu ir embora sem maiores problemas. Quando uma parte dos evangelistas decidiu retornar de carro com apoio da cacica do outro grupo, chamada Cícera e irmã de Lucélia, os ânimos se acirraram.
Lucélia acusa os evangelistas e o grupo de indígenas da própria tribo de arquitetar um plano de extermínio: “Eles vão nos matar porque não queremos a religião evangélica”, declarou ao DCM. “Decidimos permanecer aqui porque, se é para morrer ou viver, será no nosso território”, acrescentou a cacica, que integra o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos desde 2011.