Um templo da Assembleia de Deus em Cabrobó (PE), ainda em obras, foi destruído por indígenas do povo Truká após queixas de que o pastor responsável pela congregação teria zombado das tradições e crenças da tribo.
O protesto dos indígenas contra o pastor Jabson Avelino se deu por conta de uma fala do líder evangélico a respeito das dificuldades para realizar cultos no território da tribo.
“Orem pelos nossos irmãos índios. Estamos precisando, novamente, do socorro de Deus. O Pajé e o Cacique, praticamente, proibiram o culto lá. O Pajé disse que o espírito de luz não está descendo lá não. Acho que cortaram a energia de lá”, disse o pastor.
A afirmação de Avelino enfureceu os indígenas, que alegaram defender suas práticas religiosas ao derrubar as paredes do que seria uma igreja da Assembleia de Deus no território da tribo.
O cacique Bertinho afirmou que o protesto era um aviso de defesa do território dos Encantados: “O que nós queremos com isso é repudiar mais uma vez a questão do pastor Jabson com as tristes palavras que ofenderam os nossos Encantados, nossa tradição, nossa cultura, nossos mais velhos, que alguns até passaram mal quando viram o triste vídeo”, introduziu.
“Nós não estamos impedindo que o cara seja de qualquer religião. Da ponte para lá ele pode construir tempo e até catequizar Cabrobó, mas aqui dentro do nosso território tem que manter a tradição, tem que manter o respeito à comunidade indígena, o respeito à liderança e aos Caciques, que aqui estão na luta pelo direito à terra, onde os nossos antepassados sofreram, morreram e derramaram sangue dentro desse território para, hoje, nós estarmos aqui”, acrescentou o cacique Bertinho.
Tumulto
A destruição do templo evangélico rendeu bastante discussão no município, conforme informações do portal Pragmatismo Político. Um veículo local repercutiu uma nota emitida pelos indígenas, com assinatura do principal líder, o próprio Bertinho.
No documento, o cacique Bertinho cita a Constituição Federal, dizendo que os Artigos 231 e 232 reconhecem o respeito às formas de organizações próprias dos povos indígenas, além de suas crenças, costumes, usos e tradições, bem como os direitos sobre suas terras.
“Cansados [Trukás] de tantos descasos dentro do território que há muito tempo vinham vivenciando o desrespeito feito por alguns membros evangélicos, como por exemplo o não cumprimento de acordo feito pelos Caciques e Lideranças Indígenas Trukás […] para construir ou fazer qualquer obra no território indígena, faz-se necessário a consulta prévia para saber se as lideranças indígenas aceitam ou não determinada ação”, pontua o texto.
Os indígenas justificam a derrubada do templo afirmando que a liderança do povo Truká foi consultada pelo pastor para obter autorização e dar início à obra, e acrescentam que procuraram estabelecer diálogo com representantes da Assembleia de Deus, mas foram ignorados, com a obra sendo tocada a despeito das queixas.
“Imaginem se fôssemos nós, indígenas, que tivéssemos difamado a religião do pastor e achando pouco, fossemos construir uma aldeia na sua igreja, digo, dos irmãos. Não iremos permitir que um grupo religioso desrespeite, difame ou interfira no modo de vida da nossa comunidade, lutaremos para que nossos costumes, crenças, tradições e espiritualidade sejam preservados. Iremos enfrentar o que for preciso para dar continuidade a história dos nossos guerreiros que tombaram na luta. Que Tupã e nossos Encantados de Luz continuem nos dando força para lutar até quando for necessário, sempre dentro da nossa organização”, encerra o documento.