A visita do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) à sede da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) no último fim de semana tornou-se tema de um artigo do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) na revista Carta Capital.
No texto, o deputado e ativista gay adversário público do pastor Silas Malafaia, líder da ADVEC, critica o uso do púlpito como forma de conquistar apoio à pré-candidatura do senador ao governo do estado do Rio de Janeiro.
“O atual governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, mesmo sucumbindo a uma impopularidade sem precedentes, fruto de denúncias de corrupção em sua gestão, não quer a candidatura de ‘Lindinho’ e pretende eleger seu vice, Pezão, a qualquer preço. Ameaçado pelo impacto negativo de sua pré-candidatura na aliança nacional entre PT e PMDB e sentindo que esse impacto se amplia na medida em que a parceria entre Marina Silva e Eduardo Campos emerge como a possível aposta da ‘grande mídia’ para eleições do próximo ano, Lindberg decidiu pôr a alma à venda em busca de força para sua empreitada”, escreveu Wyllys.
O tom ácido do deputado se estende quando afirma que “se o fato de se pôr a alma à venda já suscita um debate sobre ética, imaginem quando a alma é oferecida a negociante que costuma pagar pouco e pedir mais que alma”. A ironia faz clara referência ao pastor Malafaia, conhecido por suas alianças políticas baseadas na defesa das ideias que costuma propagar.
A crítica de Jean Wyllys propõe uma retrospectiva sobre o apoio protagonizado por Malafaia nas últimas eleições, quando indicou o voto no então governador de São Paulo para presidente: “Todos sabem como Silas Malafaia se comportou nas eleições de 2010 em relação à então candidata do PT Dilma Rousseff. Em conluio com José Serra, candidato do PSDB, ele demonizou a petista e reduziu o debate eleitoral a uma agenda moralista – quase fascista – que obrigou os principais candidatos à presidência a se colocarem contra os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e contra a cidadania plena de homossexuais”.
Wyllys afirma que em 2010, “a militância petista teve ânsias de vômito quando viu imagens de José Serra em cultos evangélicos, acompanhado de Malafaia, proferindo expressões cristãs – ‘A paz do senhor, irmão’ – que, em sua boca, soavam tão naturais quanto um pacote de Tang”, e questiona: “O que essa mesma militância estará dizendo de seu senador?”.
Segundo Jean Wyllys, a imagem de Farias e Malafaia orando lado a lado é uma cena que não pode ser vista como sincera: “A foto da conversão de Lindberg não é só um ‘simulacro’ do real mas, antes, uma simulação descarada. Nela, o mal – a mentira, a enganação, o oportunismo, a desonestidade intelectual, a venda da alma ao diabo – é transparente”.
Usando referências da teoria do “punctum” do sociólogo e filósofo francês Roland Barthes, Wyllys diz que uma imagem “toca-nos independentemente daquilo que, nela, vemos de imediato ou buscamos”, e afirma: “Ambos [Farias e Malafaia] têm consciência de que estão enganando um eleitorado que não por acaso é chamado e tratado como ‘rebanho’ pelo seu pastor. Esforçam-se para parecerem convincentes – e tudo na foto reforça a verossimilhança da cena, inclusive o nome ‘Jesus’ ao fundo. Mas o punctum os desmascara e revela o riso da serpente”.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+