O conceito de Estado laico sempre foi um problema para a compreensão da maioria das pessoas, incluindo gente instruída que deveria saber, mais do que ninguém, quais são os limites da relação entre a religião e o Estado. Todavia, após a vitória de Jair Messias Bolsonaro para o cargo de presidente da República do Brasil, alguns analistas têm feito críticas ao fato de ele manifestar publicamente sua fé em Deus.
Após os jornalistas Mirian Leitão e Merval Pereira, do canal Globo News, dizerem que a oração feita por Bolsonaro junto com seus aliados no momento em que ficou sabendo da sua vitória nas eleições, causa “preocupação”, os críticos da vez agora foram o filósofo Vladimir Safatle e o jornalista Josias de Sousa, do portal UOL.
“Parece que estamos em um Estado teocrático militar. O sujeito começa falando sobre Deus, termina falando sobre Deus, desrespeitando brutalmente todas aquelas pessoas que entendem que o Brasil é um país laico”, disse Safatle, que integra um movimento na Universidade de São Paulo que promete fazer “resistência” ao Governo Bolsonaro.
Para Safatle, “não é possível um presidente aparecer como uma pessoa que faz propaganda de uma posição religiosa”. O filósofo, no entanto, parece se esquecer que laico, na verdade, é o Estado e não o indivíduo. Ou seja, Bolsonaro pode manifestar livremente sua fé em Deus, visto que apesar de Presidente da República, ele também é cidadão possuidor de direitos individuais.
A vida pessoal do presidente eleito Bolsonaro possui às mesmas garantias que a de todo cidadão brasileiro, incluindo a liberdade de crença, consciência e – expressão – religiosa. A concepção de Estado laico, por outro lado, diz respeito às ações na esfera pública, na forma de leis e iniciativas que não podem interferir a pluralidade religiosa.
Em outras palavras, o pronunciamento de Jair Bolsonaro enquanto cidadão não se confunde com a de presidente, muito embora sua fala a partir de então seja, toda ela, encarada como a de um chefe de Estado.
Apesar de essa noção ser cristalina, o jornalista Josias de Sousa fez eco à fala de Safatle, sugerindo que a vida religiosa de Jair Bolsonaro deve ser restrita ao ambiente privado.
“Depois vem esse culto evangélico entremeando a aparição na internet e a manifestação com a leitura de um discurso. Uma oração que ele podia fazer em privado. Com todo respeito à religião do novo presidente, não precisava expor isso em rede nacional”, disse ele.