“Novinha” é um termo que começou a ser usado nas favelas do Rio de Janeiro, entre os ouvintes de funk, e terminou por se transformar de um adjetivo a um substantivo concreto, em referência às adolescentes que frequentam os bailes e possuem beleza chamativa. O primeiro MC a usar o termo em uma música, no entanto, se converteu ao Evangelho e não quer sua filha ouvindo esse tipo de música.
A história do MC Frank, 39 anos, começou há pouco mais de dez, quando começou a popularização do termo com a música Vai, Novinha, que lançou com o Bonde dos Magrinhos. A letra exaltava a performance sexual das meninas, muitas delas menores de idade, e o termo se tornou um dos mais pesquisados no Google.
Agora, convertido ao Evangelho, Frank afirmou à revista Piauí que proíbe a filha de 15 anos de idade de escutar “esse tipo de música”, por considerá-la explícita e depreciativa. A mesma estratégia, garante, será usada com sua outra menina, que hoje tem 7 anos.
“Não quero que elas entrem nisso. Abomino essas músicas, quero que fiquem longe. Quando ela [a mais velha] tenta ouvir, eu tiro na hora”, contou, sem se importar com as críticas que o fazem apontando contradição com seu passado.
Frequentador da Assembleia de Deus, Frank ainda concilia a carreira de funkeiro, mas quer evitar usar o trabalho para depreciar mulheres ou impulsionar a banalização da beleza feminina e relações sexuais, tentando mostrar às filhas que muito do que forma a cultura baseada no ritmo onde construiu carreira é negativo.
“Na época, o funk rolava dentro das comunidades, não ia tanto pra Zona Sul. Nessas comunidades, ninguém achava a música desrespeitosa, não tinha problema”, disse Frank, expressando como enxergava o ambiente anos atrás e admitindo que hoje considera a letra do funk como “totalmente machista”.
Outro que fez fama com músicas que exaltavam as características da adolescente “novinha” foi o MC Loscar, ou Carlos Cesar Vieira. No entanto, sua conversão o levou a abandonar completamente o funk, e hoje trabalha em sua empresa, especializada em trabalhos gráficos, sediada no Saara, região de comércio popular no centro do Rio.
Aos 28 anos, Loscar decidiu que não seria pego em contradições, e embora fale com tranquilidade sobre seu passado de funkeiro, deixa claro que MC Loscar – uma inversão das sílabas do seu prenome – é um personagem do passado, porque agora se dedica à “caminhada evangélica”, frequentando cultos ao lado da mãe, na Igreja Universal do Reino de Deus.
Explicando o conceito de “novinha”, diz ser “algo positivo”, no sentido de ser um elogio: “As meninas gostam de ser chamadas assim. Ninguém chama uma feia de novinha”, detalhou Loscar, acrescentando, porém, que toda a cultura de exaltação do sexo promíscuo é um grande “vazio”, e que havia se cansado disso: “O tempo vai passando, você vê que aquilo tudo é ilusão”.