Uma ex-juíza afegã que fugiu do país para salvar a própria vida relatou que os extremistas muçulmanos do Talibã atearam fogo a uma mulher porque ela não seria boa cozinheira.
Najla Ayoubi era juíza no Afeganistão e precisou fugir do país com o avanço do Talibã até a retomada da capital Cabul e, consequentemente, do poder. Ela concedeu uma entrevista no exílio e reiterou o relato recorrente de que muitas mulheres têm sido escravizadas sexualmente.
O relato mais surreal feito por Najla, no entanto, demonstra o completo desprezo pelas mulheres por parte dos extremistas: “Eles estão forçando as pessoas a fazer comida e dar para eles. Uma mulher foi incendiada porque foi acusada de cozinhar mal para os combatentes do Talibã”, disse ela à emissora Sky News.
Ao ver que o Talibã começava a assumir controle de áreas do interior do Afeganistão, ela decidiu abandonar a vida que havia construído como juíza. Já no exterior, passou a receber inúmeros relatos de violência contra mulheres.
Ela acrescentou que também ouviu que muitas ativistas estão escondidas por medo da violência: “Há muitas mulheres sendo enviadas nas últimas semanas para os países vizinhos em caixões para serem usadas como escravas sexuais”, reportou.
“Eles também forçam as famílias a casar suas filhas com combatentes do Talibã. Não vejo onde está a promessa de que as mulheres poderiam trabalhar, quando estamos vendo todas essas atrocidades”, desabafou a ex-juíza.
Former Afghan judge Najla Ayoubi says she had to “flee” for her life from the Taliban after speaking in favour of women and women’s rights.
She says she’s spoken to hundreds of her fellow activists in Afghanistan and many of them are “in hiding”.https://t.co/L3t5CE65aD pic.twitter.com/btj45ANiDm
— Sky News (@SkyNews) August 20, 2021
Contexto histórico
As mulheres que viveram sob o domínio do Talibã de 1996 a 2001 não tinham permissão para frequentar a escola ou trabalhar. Elas só podiam sair de casa na presença de um homem e eram obrigadas a usar roupas da cabeça aos pés.
De acordo com informações da Fox News, uma declaração recente assinada pelos Estados Unidos e 20 outros países pedia aos governantes do país que “garantissem” a proteção de mulheres e meninas de “qualquer forma de discriminação e abuso”.
“Estamos profundamente preocupados com as mulheres e meninas afegãs, seus direitos à educação, trabalho e liberdade de circulação. Apelamos aos que ocupam posições de poder e autoridade em todo o Afeganistão para garantir sua proteção”, diz o texto.
“Nós, na comunidade internacional, estamos prontos para ajudá-las com apoio humanitário, para garantir que suas vozes possam ser ouvidas”, acrescenta o documento.
Dentre outras acusações, o Talibã agora está sendo questionado por sua falsa promessa para as mulheres, já que durante a retomada violenta do poder, o grupo tentou convencer a comunidade internacional de que respeitaria os “direitos das mulheres”, mas vários relatórios locais mostram mulheres sendo retiradas de empregos em bancos e enviadas para suas casas, enquanto outras buscam formas de fugir do país com medo de serem mortas.
“Eu não queria sair do Afeganistão, mas minha mãe me forçou a ir embora”, disse uma cidadã afegã em entrevista à Fox News, acrescentando as palavras de sua mãe: “Tenho certeza de que o Talibã vai matar você, porque você é jornalista e mulher”.
“Tive muitos sonhos, tive muitas esperanças para o Afeganistão. Mas agora, estou em uma situação ruim e estou apenas tentando encontrar um caminho”, acrescentou a exilada.