O empenho dos cientistas atuais em desacreditar a tese de que o mundo e tudo que nele há foi criado por Deus tem um soldado dedicado e muito bem articulado: Neil deGrasse Tyson, um astrofísico considerado popstar nos Estados Unidos.
Tyson, que é o atual apresentador da série Cosmos, na National Geographic Channel, está lançando no Brasil o livro “Morte por Buraco Negro e Outros Dilemas Cósmicos”, um best-seller lançado em 2010 que só agora chega às livrarias nacionais.
O astrofísico concedeu entrevistas à revista Veja e ao jornal Folha de S. Paulo, explicando seu ponto de vista da ciência, e afirmou que “aqueles que dizem não confiar na ciência geralmente têm outra filosofia, que pode ser política ou religiosa”.
Para ele, as pessoas não têm motivos para não confiar na ciência, mesmo que ela não tenha todas as respostas: “Não podemos esquecer que a ciência é um caminho para encontrar verdades objetivas. Você pode ter verdades pessoais, como ‘Jesus é meu salvador’. Motivo: se quiser convencer outra pessoa disso, precisará repetir isso com frequência ou travar uma guerra, obrigando-os a concordar com você. Não há provas factíveis. Já a verdade objetiva é verdade, quer você acredite nela ou não. É com base nelas que legislações deveriam ser criadas. De qualquer forma, a fronteira da ciência é sempre complicada e as coisas que se provam erradas são geralmente as que aparecem nos jornais”, disse.
Questionado sobre a possibilidade de conciliar ciência e religião, como fazem 20% dos astrofísicos – segundo dados apresentados em seu livro -, Tyson optou por uma resposta, no mínimo, arrogante.
“Esses cientistas mantêm cada uma dessas coisas em partes separadas do cérebro. É só isso. Eles só podem dizer que a religião deles não conflita com a ciência se rejeitarem todos as alegações científicas feitas por sua religião. No cristianismo, por exemplo, há um capítulo inteiro na Bíblia sobre a Origem. Eles devem rejeitar sumariamente tudo dito no Gênesis, porque o que é dito lá se opõe à evolução e à história, ou mesmo à idade da Terra. Então eles, os cientistas-religiosos, rejeitam essa parte e mantém os elementos de enriquecimento espiritual. Assim as duas ideias podem coexistir dentro da mesma mente. Pode ser devastador para algumas pessoas, porque é a sua religião, sua filosofia, mas em certo ponto é preciso superar isso. Aceite, as conclusões científicas são verdades objetivas”, disse.
Há, hoje em dia, cientistas que vejam na narrativa do Gênesis uma sequência de fatos coincidentes com o que a ciência sabe sobre a origem do universo, apesar de divergirem em relação ao tempo apresentado na Bíblia. Por outro lado, há teólogos que entendem que a palavra “dia” no primeiro livro das Escrituras não precisa ser interpretada de forma literal, sendo uma referência às fases da Criação.
“A ciência pode provar que não há Deus?”, perguntaram os entrevistadores. Com uma resposta pouco objetiva, Tyson disse que só é possível testar o que as pessoas alegam que sejam manifestações de Deus.
“A ciência pode testar se há um Deus, baseada nas afirmações que você faz sobre o seu Deus. Então, a ciência nunca prova nada sobre nada. Você geralmente não verá um cientista usando a palavra ‘prova’. Não é o que fazemos. O que fazemos é: temos uma ideia, e nós a testamos. E se a ideia sobrevive ao teste e fazemos outros testes e fazemos outras pessoas verificarem, então estabelecemos uma nova verdade sobre o mundo, baseada na série de testes que fizemos. Você diz: ‘Eu acredito em Deus’. Eu digo: ‘Tudo bem. Se Deus existe, como ele se manifestaria nesse mundo?’ E você diria: ‘Pessoas que oram terão suas preces atendidas’. Ou ‘Pessoas que ficam doentes e que recebem orações têm mais chance de melhorar’. Você pensa em fenômenos testáveis que, segundo você, se seu Deus existe, deveriam ser testáveis”, finalizou.