Um padre que recusou batizar um bebê de um ano e seis meses foi denunciado à Polícia Civil por supostamente cometer crime de intolerância religiosa. Os pais da criança são praticantes do candomblé.
O rito da Igreja Católica exige que, para um bebê ser batizado, precisa ter menos de nove anos de idade e que, pelo menos, os padrinhos de batismo sejam batizados.
A notícia da recusa do padre, veiculada pelo jornal O Globo, não informa se os pais que procuraram a Paróquia Senhor do Bonfim, no bairro Engenheiro Pedreira, em Japeri (RJ), haviam indicado padrinhos de batismo que cumprem o requisito estabelecido pelo Vaticano.
O jornalista Nelson Lima Neto, colaborador da coluna de Ancelmo Góis, relatou que o padre teria recusado celebrar o batismo do bebê “pois seus pais são iniciados no candomblé”, e acrescentou “que a fé seguida pelos responsáveis não impede o batismo, principalmente no caso dos mais novos”. Nessa perspectiva, a matéria considera apenas os valores do candomblé, excluindo os da Igreja Católica.
A reação dos pais do bebê foi registrar uma ocorrência na 63ª DP, em Japeri, acusando o padre de crime de intolerância religiosa. O babalaô Ivanir dos Santos, ativista de defesa das religiões de matriz africana no Rio de Janeiro, procurou a Arquidiocese do Rio para cobrar uma posição sobre o ocorrido.
Regras
O padre Renato Vieira, pároco do Santuário Cristo Rei e São Judas Tadeu, em Curitiba (PR), explicou que a Igreja Católica tem algumas exigências relacionadas ao batismo de crianças.
Em entrevista ao jornal Gazeta do Povo, pontuou que muitas pessoas confundem o significado do batismo no cristianismo.
“Me parece que para algumas pessoas o batismo não é entendido como fazer parte da Igreja Católica; elas interpretam como uma bênção, algo para afastar os males. Mas ele é muito maior do que isso”, disse Vieira.
“O batismo representa um novo nascimento. Ele nos torna filho de Deus e nos incorpora à igreja”, diz o frei capuchinho Maurício Aparecida Solfa, 40, da Igreja dos Capuchinhos, explicando o significado da celebração no catolicismo.
“Em uma situação ideal, os padrinhos devem ter toda a educação cristã católica: batizados quando crianças, feito catequese, crisma e também que participem ativamente da rotina da Igreja”, recapitulou o padre Vieira.
É bastante comum acontecer casos de negativa por parte do sacerdote por conta dos requisitos exigidos, disse Vieira, que afirmou haver uma orientação do papa Francisco: “Cada caso pode ter uma abordagem diferente, por isso é preciso procurar um padre e alinhar a situação para que haja coerência com os valores da igreja”.
Essa exigência, no entanto, não se trata de negar o batismo: “O que fazemos é esperar a situação adequada para que o sacramento seja realizado. Caso contrário, é como dar um carro para alguém que não sabe dirigir”, completou.