A existência de um lobby gay e focos de corrupção no Vaticano foi apontado há meses como o motivo que levou Bento XVI a renunciar ao pontificado. Agora, meses depois de eleito, o papa Francisco teria reconhecido que a Igreja Católica realmente enfrenta uma crise com essas questões.
Numa reunião com a diretoria da Confederação Latino-Americana e Caribenha de Religiosas e Religiosos (CLAR), Francisco teria admitido a necessidade de reformar a estrutura do Vaticano: “Na Cúria há gente santa, de verdade, há gente santa. Mas também há uma corrente de corrupção, também há, é verdade. Hoje se fala de ‘lobby gay’ e é verdade, ele existe… é preciso ver o que podemos fazer”, teria dito o papa, de acordo com informações da AFP.
Ainda segundo o papa, ele não seria a pessoa ideal para conduzir essa reforma: “Sou uma pessoa desorganizada, nunca fui bom nisso. Mas os cardeais da comissão vão levá-la adiante”, afirmou, referindo-se ao grupo de oito cardeais que foram nomeados por ele para assessorá-lo na questão. “A reforma da Cúria Romana é algo que quase todos os cardeais pediram nas congregações anteriores ao conclave. Eu também a pedi. A reforma não pode ser feita por mim…”, observou.
Fazem parte do grupo nomeado para estudar os pontos que precisam ser mudados na administração do Vaticano o cardeal hondurenho Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, que é conhecido por suas posições a favor de uma reforma no governo central da Igreja Católica, e o chileno Francisco Javier Errázuriz Ossa, arcebispo emérito de Santiago do Chile, profundo conhecedor dos bastidores da sede da denominação.
Durante o encontro, Francisco também recomendou que as lideranças regionais da Igreja Católica se esforcem em fazer a denominação se movimentar: “Vocês vão se equivocar, vão fazer bobagem, isso acontece! Talvez até vão receber uma carta da Congregação para a Doutrina [da Fé] dizendo que vocês disseram tal e tal coisa… Mas não se preocupem. Expliquem o que tenham que explicar, mas sigam em frente… Abram portas, façam algo aí onde a vida clama. Prefiro uma Igreja que se equivoca por fazer algo do que uma que adoece por ficar fechada”, incentivou.
O papa ainda pontuou que a Igreja precisa cumprir seu papel original e promover transformações sociais. O pontífice criticou as desigualdades sociais, o apego ao dinheiro, entre outros.
“É preciso inverter a moeda. Não é notícia que um idoso morra de frio durante a noite, ou que haja tantas crianças sem educação, ou com fome – eu penso na Argentina… Ao invés, as principais bolsas do mundo sobem ou descem três pontos e isso é um acontecimento mundial. É preciso inverter! Não pode ser. Os computadores não são feitos à imagem e semelhança de Deus, são um instrumento, sim, mas não mais do que isso. O dinheiro não é imagem e semelhança de Deus. Só a pessoa é imagem e semelhança de Deus. É preciso inverter. Esse é o Evangelho”, disse aos diretores da CLAR.
Nesse contexto, Francisco criticou a postura da Igreja Católica de apenas condenar o aborto, mas não estudar as causas do problema: “É preciso ir às causas, às raízes. O aborto é ruim, mas isso está claro. Mas o que há por trás do fato de aprovar essa lei, que interesses estão por trás…? Às vezes, são as condições postas pelos grandes grupos para apoiar com dinheiro, sabem? É preciso ir às causas, não podemos ficar apenas nos sintomas. Não tenham medo de denunciar… Vocês vão se dar mal, vão ter problemas, mas não tenham medo de denunciar. Essa é a profecia da vida religiosa”, enfatizou, segundo informações do site Reflexión y Liberación.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+