O papa emérito Bento XVI está prestes a publicar um livro sobre fé e política, e o prefácio foi escrito por seu sucessor, Francisco, que fez uma dura crítica à “pretensão totalitária do Estado marxista”.
O papa Francisco sempre esteve sob desconfiança no que se refere a seu posicionamento político. Quando foi alçado ao pontificado, seu histórico de atuação durante a ditadura na Argentina foi revirado, e surgiu a suspeita de que ele tivesse simpatia pelo comunismo.
Agora, no prefácio do livro que reúne textos de seu antecessor sobre o tema, Francisco fala pela primeira vez de forma aguda e contundente contra os ideais propostos por Karl Marx, filósofo alemão que se dedicou a divulgar teses sobre a “revolução do proletariado”.
No texto, Francisco diz que as propostas marxistas são contrárias à liberdade existente no Evangelho. “Ao lado de São João Paulo II, ele [Joseph Ratzinger/BentoXVI] elabora e propõe uma visão cristã dos direitos humanos capaz de colocar em discussão, a nível prático e teórico, a pretensão totalitária do Estado marxista e da ideologia ateia sobre a qual se fundava”, escreve o pontífice.
Segundo informações do jornal italiano La Stampa, o prefácio da obra Libertar a Liberdade. Fé e Política no Terceiro Milênio indica que Bento XVI tem se dedicado a este assunto desde que abdicou do pontificado, lembrando que o papa emérito viveu “a experiência direta do totalitarismo nazi”.
Bento XVI versa sobre os “limites da obediência ao Estado em favor da liberdade da obediência a Deus”, indica Francisco, que acrescenta que “o verdadeiro contraste entre o marxismo e o cristianismo” não se resume à “atenção preferencial” aos pobres ou com o “sentido de equidade e solidariedade”, mas na “pretensão marxista de colocar o céu na terra”.
O texto critica “aparentes” direitos humanos na teoria marxista que são, segundo o papa, “orientados para a autodestruição do homem”: “O seu único denominador comum consiste numa única, grande negação: a negação da dependência do amor, a negação que o homem seja criatura de Deus”, adverte Francisco.
A defesa contra “reduções ideológicas do poder”, de acordo com o líder católico, passa por “fixar a obediência do homem a Deus como limite para a obediência ao Estado”. Além disso, o papa Francisco faz votos, no prefácio, de que o livro de Bento XVI sirva de “inspiração para uma ação política que, ao colocar a família, a solidariedade e a equidade no centro da sua atenção e da sua programação, olhe verdadeiramente para o futuro com visão de longo prazo”.