Opor-se à reabertura criteriosa e gradual das atividades econômicas e também das igrejas não é uma opinião muito popular entre os fiéis, mas é a linha adotada pelo pastor Pedro Correia, que ficou conhecido por celebrar o casamento do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) com a psicóloga Heloísa Wolff.
Pedrão, como é conhecido desde os tempos em que participou do reality show de sobrevivência No Limite, da TV Globo, atualmente lidera a Comunidade Batista do Rio e virou manchete por inovar na celebração de um batismo nas águas online, devido à suspensão dos cultos em quase todo o território nacional.
Em entrevista ao jornalista Guilherme Amado, da revista Época, Pedrão ecoou as recomendações de isolamento completo e teceu críticas aos líderes evangélicos que pregam a retomada das atividades: “Pastor que prega contra o isolamento se preocupa mais com arrecadação que com fiel. O que me chama atenção é que pastor deveria zelar pelas suas ovelhas. Não vou expor meus membros e dizer para eles saírem de casa”, afirmou.
O pastor acredita que as igrejas que têm pessoas mais carentes como membros são as que mais demonstram preocupação com o período prolongado de quarentena horizontal: “Tem gente que acha que tem que entregar o dízimo presencialmente na igreja, porque lá Deus está vendo, então a doação do membro é maior. Na Igreja Universal do Reino de Deus, a arrecadação é principalmente presencial”, ilustrou.
“Em igrejas de comunidades mais simples, elas estão padecendo. Esse membro não tem conta em banco, ou não sabe fazer transferência online, ou a pessoa não tem internet para assistir uma live”, acrescentou Pedrão.
Como lidera uma igreja com público de classe média alta, o pastor se sente em uma posição confortável para defender um isolamento prolongado como forma de retardar a disseminação do coronavírus: “Defendo que as pessoas fiquem em isolamento. Faço live todo dia e digo isso. Estou com o culto online, transmito virtualmente como se estivesse em um estúdio. É complicado olhar para a câmera e não sentir a reação das pessoas, mas faço para cada culto um cenário. Fiz uma do terraço do meu apartamento. Os membros veem que o pastor está ralando”.
“Como igreja, procurei não mudar a rotina dos caras. Faço estudo sistemático com eles, não falo só de coronavírus, como outros pastores. Os temas são os mesmos que eu trataria na igreja. As pessoas seguem contribuindo com o dízimo, agora só online, que já existia antes, com o presencial”, disse.
Entretanto, a postura de Pedrão não o faz ignorar falhas na administração da crise por parte das autoridades, e ele lamenta que muitas pessoas estejam tendo problemas psicológicos devido ao isolamento: “Tinha que ser pensada uma maneira de não se perder o senso de normalidade. Em alguns lugares, as pessoas estão ignorando a quarentena”, reconheceu.
“A falta de definição de data para flexibilizar o isolamento contribui para isso. As pessoas estão passando por uma barra muito grande, com traumas psicológicos. O filho de um conhecido meu está com medo de sair de casa, outra menina acha que tudo fora de casa é sujo. Ninguém está preparando as pessoas para depois, e elas estão ansiosas, deprimidas”, lamentou.