A adesão do presidente Jair Bolsonaro ao jejum nacional sugerido por pastores evangélicos e grupos católicos se tornou alvo de críticas de evangélicos de esquerda, como o missionário e teólogo Caio César Marçal, e a pastora Romi Márcia Bencke, do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC).
Para Marçal, um franco militante de esquerda nas redes sociais e coordenador do movimento social Rede Fale, o presidente Bolsonaro não conhece o significado do jejum: “Para o profeta Isaías, jejum que não observa o direito dos empregados e não rompe com o jugo da desigualdade, não agrada a Deus”, afirmou.
Na entrevista ao portal Rede Brasil Atual, Marçal citou a passagem de Isaías 58:7, numa espécie de contraponto dos propósitos de uma mobilização de jejum e oração para que os efeitos do coronavirus sejam menores no país em comparação com a situação de China, Itália, Espanha e Estados Unidos, entre outros.
Para Marçal, “não vale de nada ‘jejuar’ se o governo atual opta em dobrar seus joelhos ao ‘Deus Mercado’”: “O Deus da vida espera de nós que cuidemos dos mais vulneráveis. Porém, a agenda de Guedes e Bolsonaro está empenhada em proteger os poderosos, ao invés dos mais necessitados”, concluiu.
Conhecido por suas posturas controversas, Marçal já subscreveu um manifesto favorável à descriminalização das drogas no Brasil. Já sua colega de críticas à iniciativa do jejum, Romi Márcia Bencke, já participou de seminário LGBT no Congresso Nacional corroborando a ideia de que a intolerância de cristãos é a principal causa de violência contra homossexuais.
A pastora luterana seguiu a mesma linha de Marçal suas críticas ao dia nacional de jejum: “A melhor prática de jejum é o cuidado com outro”, disse a líder evangélica que atua como secretária geral do CONIC.
“Neste finalzinho de quaresma, precisamos abrir mão dos individualismos e do desejo de poder. Jejum não é sacrifício, mas é ação em oração […] Em um Estado laico, não é papel do presidente da República convocar jejum e oração. A tarefa do presidente é seguir a Constituição, colocar toda a sua energia para resolver junto com os demais poderes instituídos esta crise gigantesca que está instalada no país”, acrescentou.
Outro que, embora não seja ligado à esquerda, teceu críticas à divulgação do dia de jejum por parte do presidente foi o teólogo e pastor Guilherme de Carvalho, da Igreja Esperança, em Belo Horizonte (MG). Ele ocupou o cargo de diretor de Promoção de Educação em Direitos Humanos no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, dirigido pela pastora neopentecostal Damares Alves.
“Presidente pode pedir a autoridades religiosas para orar e cooperar com o país. Mas presidente não convoca autoridades religiosas nem pastores evangélicos. Ele não tem autoridade para isso. Temos aqui uma clara violação do princípio da soberania das esferas”, escreveu Carvalho.