A peça de teatro em que um travesti representa Jesus será encenada em um templo da Igreja Anglicana em São Paulo. Cercada de polêmica, o “espetáculo” chegou a ser proibido na cidade de Jundiaí (SP), quando um juiz entendeu que havia ofensas à religião cristã.
A encenação da pela “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu” na Paróquia da Santíssima Trindade, da Igreja Evangélica Anglicana do Brasil, acontecerá no dia 23 de outubro, às 20h00, com entrada franca e pedido de doações de roupas e calçados para a Casa Florescer, que é uma entidade que acolhe travestis e transexuais no bairro do Bom Retiro, na capital paulista.
A peça é um monólogo criado pelo transexual Jo Clifford, que decidiu mudar de sexo aos 56 anos e diz ter criado a peça para expor o que o incomodava no cristianismo. Dessa forma, Jesus é apresentado como um travesti e fala sobre a mensagem do Evangelho de forma condicionada ao politicamente correto contemporâneo.
De acordo com informações do portal iG, a apresentação da peça no templo da Igreja Anglicana conta com o apoio da direção da denominação. A diretora da peça, Natalia Mallo, afirmou que “o espetáculo busca resgatar a essência do que seria a mensagem de Jesus : afirmação da vida, tolerância, perdão, amor ao próximo. Para tanto, Jesus encarna em uma travesti, na identidade mais estigmatizada e marginalizada da nossa sociedade. A mensagem é de amor”, argumentou.
Sobre a proibição da peça na cidade de Jundiaí, sob o argumento de ofensas à fé cristã, Mallo considera um episódio de intolerância: “Afirmar que a travestilidade da atriz representa em si uma afronta à fé cristã ou concluir, antes de assistir o trabalho, que é um insulto à imagem de Jesus é, do nosso ponto de vista, negar a diversidade da experiência humana. Cria-se categorias onde algumas experiências são válidas e outras não, algumas vidas tem valor e outras não”, acusou.
Igreja Anglicana
No mundo todo, congregações da Igreja Anglicana vêm adotando uma postura de ativismo LGBT, contrariando as lideranças mais conservadoras da denominação e o consenso teológico a respeito da homossexualidade representar um pecado.
Em fevereiro deste ano, a Westcott House Anglican Church, em Cambridge, Inglaterra, realizou uma “reunião inclusiva” com ares de blasfêmia por adequar sua linguagem de culto aos conceitos do “politicamente-correto” nos movimentos feminista e LGBT, referindo-se a Deus, Jesus e o Espírito Santo com termos do dialeto próprio dessas comunidades.
Durante a reunião, Deus era referido como como “gloriosa” e “tia”, enquanto Senhor foi substituído por “Duquesa”, e ao encerramento, ao invés do tradicional “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”, a oração lida foi “todo o arraso seja para a Tia, para o Chegado e a Fada Fabulosa”.
A mudança, segundo argumentaram os criadores do livro Bíblia Polari – uma paráfrase da Bíblia que contém o que convém aos adeptos da teologia inclusiva – aconteceu porque Deus é um “termo machista”.
Já em setembro último, um templo da denominação na Escócia casou os homossexuais Peter Matthews e Alistair Dinnie, que se tornaram os primeiros a oficializarem sua união em uma cerimônia realizada em uma Igreja Anglicana no Reino Unido. O “casamento gay” aconteceu em Edimburgo, com aprovação da Igreja Episcopal Escocesa e comemoração por parte dos ativistas gays.