O prefeito de Porto Alegre (RS), Nelson Marchezan Junior (PSDB), afirmou que as igrejas evangélicas pleiteiam a reabertura dos templos em meio à quarentena porque desejam “faturar”.
A declaração polêmica foi alvo de um artigo de repúdio do advogado Thiago Rafael Vieira, professor de Direito religioso, que viu na fala de Marchezan Junior uma demonstração de desconhecimento e desrespeito à liberdade religiosa.
A fala do prefeito de Porto Alegre foi estimulada pelo enunciado da entrevistadora da Rádio Gaúcha, que afirmou que “Deus está em todo lugar; a gente pode rezar em qualquer lugar, a gente pode rezar em casa”, e depois incrementou: “É bastante impressionante a pressão que o senhor sofre para reabertura das Igrejas evangélicas”.
A partir de então, o prefeito passou a demonstrar sua visão sobre os evangélicos da capital gaúcha: “Uma estrutura de comunicação liderada por igrejas tem feito isso de forma absolutamente sem pudor, sem moral, e sem nenhum princípio de religião que pudesse orientar a população a se ‘religar’ com algo espiritual. Eu registro isso porque, neste momento, ter que me preocupar com isso, buscar ações judiciais para proteger minha família e meu nome, é uma preocupação inadequada e injusta, por um motivo torpe, que é reunir pessoas para faturar, só pode ser essa a explicação”, declarou.
Para o advogado, Marchezan Junior se equivocou de maneira desastrosa: “Chamar a fé de torpe é impensável em uma democracia, sobretudo, em um país que foi forjado no seio da Igreja, que nasceu por missões jesuítas – que vieram do velho mundo para levar Cristo ao novo mundo. Ainda mais em uma cidade que tem no meio de sua bandeira a cruz vermelha da ordem de Cristo e como seus primeiros nomes, homenagens a santos, parece que nem o seu prefeito sabe disso”, criticou.
“A Igreja é assembleia dos crentes, a soma dos fiéis, e, nada é mais natural ao ser humano, como ensina [o cientista político Alexis de] Tocqueville […], do que agir, associar-se com outros. Trata-se de um direito inalienável de todos nós o de se associar e, se para fins de adoração, o mais fundamental e inalienável de todos os direitos, pois decorre do mais íntimo do coração de cada um”, conceituou vieira.
Por fim, o especialista em Direito religioso diz, em seu artigo no portal Gazeta do Povo, que “a ofensa do prefeito da capital do Rio Grande do Sul às igrejas é uma ofensa direta a milhares de porto-alegrenses e à democracia, porque a Igreja são as pessoas!”, e, como uma congregação wue comunga da mesma fé, ”estas pessoas não se encontram para faturar, porque a Igreja é uma instituição que possui um fim em si mesma, e, portanto, não é um meio para alcançar um fim, ela é o fim último dela mesma”.