Cristãos na Síria enfrentam um futuro incerto e perigoso sob o controle de forças rebeldes lideradas por extremistas islâmicos. A população cristã minoritária – significativamente diminuída por anos de guerra civil – agora luta contra o medo de ameaças e restrições crescentes.
Forças rebeldes islâmicas, lideradas pela Hay’at Tahrir al-Sham (HTS), que é descrita como uma organização terrorista pelos EUA e Reino Unido, capturaram Alepo há cerca de uma semana, seguidas pelas cidades de Homs e Damasco no final da noite de sábado.
A derrubada da ditadura de Bashar al-Assad, que renunciou e deixou a Síria em um voo para a Rússia na noite de sábado, traz sérias preocupações para os cristãos, que antes da guerra civil viviam com relativa tranquilidade no país.
Desde que o HTS assumiu o poder em Alepo, muitos cristãos fugiram deixando para trás um grupo pequeno, mas decidido, que tenta manter sua fé e tradições. “Os próximos dias e semanas serão cruciais para o destino da comunidade cristã”, disse Jeff King, presidente da International Christian Concern (ICC).
“Os cristãos, com raízes que remontam a quase dois milênios, agora enfrentam um futuro incerto e perigoso”, acrescentou King, pontuando que muitos moradores de Alepo enfrentam escassez de água potável e alimentos.
Terror
O grupo de extremistas muçulmanos da HTS deriva da Al-Qaeda, e impôs um toque de recolher das 17h às 5h, restringindo ainda mais a vida diária em Alepo, o que faz os cristãos locais se sentirem vulneráveis.
De acordo com informações do portal The Christian Post, há pequenas vans distribuindo pão e água grátis em alguns bairros, o que oferece um pequeno alívio.
Uma rodovia importante entre Damasco e Alepo também foi bloqueada, deixando os moradores com apenas uma rota alternativa congestionada e perigosa.
Esse isolamento ceifou vidas, incluindo a do Dr. Arwant Arslanian, um médico cristão morto a tiros enquanto tentava fugir da cidade.
Um ônibus que transportava jovens cristãos também ficou preso na Estrada de Alepo, encontrando posteriormente refúgio na Arquidiocese Ortodoxa Siríaca. Muitos líderes cristãos permaneceram na cidade, fornecendo orientação espiritual e apoio prático às suas comunidades.
Em meio a tudo isso, o líder do HTS prometeu proteger civis, incluindo cristãos: “Alepo sempre foi um ponto de encontro para civilizações e culturas, e continuará assim, com uma longa história de diversidade cultural e religiosa”, teria dito Abu Mohammed al-Jolani.
Apesar das garantias, os temores persistem entre os cerca de 30 mil cristãos de Alepo, e a entidade Christian Solidarity International (CSI), sediada na Suíça, respondeu à garantia dada pelo HTS dizendo que “a ideologia e a história do HTS dão às minorias religiosas em Alepo motivos sérios para duvidar dessas promessas”.
“Na visão de mundo salafista que anima o HTS, os cristãos não são hereges a serem destruídos (como os alauítas e os drusos), mas ‘povo do Livro’ — seguidores de religiões que foram reveladas antes da vinda do profeta [islâmico] Maomé. Em terras governadas pelo islamismo, eles devem ser feitos dhimmis — um povo protegido que é mantido em subjugação legal e paga um imposto adicional chamado jizya”, continuou o CSI.
“Até agora, o HTS evitou impor o status de dhimmi aos cristãos em Idlib, referindo-se a eles como musta’min, ou residentes temporários. Mas por quanto tempo o HTS manterá essa distinção?”, questionou o CSI.
A comunidade cristã em Alepo historicamente se alinhou ao antigo governo da Síria, já que o ditador Bashar al-Assad, um membro da minoria alauíta, se posicionou como protetor das minorias. A tomada de poder pelos rebeldes traz à memória as perseguições anteriores durante o califado do Estado Islâmico em partes do país e do Iraque.