Baidoa, Somália – O Parlamento da Somália declarou ontem três meses de estado de emergência para restaurar a segurança no país, após semanas de guerra terem derrubado os islâmicos do poder. Parlamentares aprovaram a medida em Baidoa, sede interina do governo durante o confronto das tropas somalis e etíopes contra os islâmicos, que controlavam boa parte do sul do país. “Um estado de emergência de três meses foi aprovado. Se houver necessidade de prolongá-lo, o presidente terá de pedir a aprovação do Parlamento”, disse à Assembléia Osman Elmi Boqore, vice-presidente da Casa.
O primeiro-ministro Ali Mohamed Gedi havia afirmado no fim de dezembro que três meses de estado de emergência eram necessários para impor a ordem, depois que tropas, aviões e tanques etíopes ajudaram o governo somali a terminar com seis meses de controle islâmico.
O governo, que busca se instalar na capital Mogadíscio, enfrenta um grande desafio para trazer a paz e a segurança para o país do oeste africano, que desde a queda de um ditador em 1991 não tem uma autoridade central de fato.
A aprovação do Parlamento ocorreu horas depois de as forças do governo, apoiadas pela Etiópia, capturarem um reduto islâmico no sul, para onde, acredita-se, havia ido vários fugitivos.
A vila de Ras Kamboni ficava perto da fronteira com o Quênia. “O governo tomou o último reduto islâmico”, declarou Abdirahman Dinari, porta-voz do governo da Somália.
O governo dos Estados Unidos enviou um avião de guerra para a Somália na segunda-feira para tentar matar militantes suspeitos de pertencerem à Al Qaeda. Aviões etíopes atacam a área há dias para terminar uma guerra que começou antes do Natal. “Os aviões etíopes estão agora atacando região perto da fronteira com o Quênia, onde os islâmicos podem estar escondidos”, afirmou o legislador Abdirashid Mohammed Hidig, que atua como líder do governo na área.
Hidig disse que forças norte-americanas estão no local, mas não são vistas em batalhas. Uma importante autoridade dos Estados Unidos disse à agência de notícias Reuters nesta semana que não sabia de nenhuma força especial do país na Somália.
A ONG britânica Oxfam afirmou que ataques aéreos contra islâmicos e os seus supostos aliados da Al Qaeda no sul da Somália já mataram por engano 70 pastores nômades. Tanto a Etiópia quanto os Estados Unidos negam ataques a civis. A ação de Washington foi o seu primeiro envolvimento militar na Somália desde a desastrosa missão de paz em 1994.
Segundo o governo norte-americano, até dez aliados da Al Qaeda foram mortos, mas os três principais suspeitos escaparam. Washington nega ter se envolvido em outros ataques.
A Etiópia, principal potência da região, quer retirar seus soldados da Somália nas próximas semanas. Diplomatas temem que isso deixe o governo vulnerável a uma possível guerrilha islâmica, a líderes e milícias locais e clãs rivais.
Líderes de milícias da Somália concordaram em unir as suas forças num novo exército nacional, mas conflitos do lado de fora do palácio presidencial, onde eles se encontraram, mostraram o quão difícil será a tarefa.
Fonte: Gazeta do Povo