A finalização da construção do Templo de Salomão da Igreja Universal do Reino de Deus expôs a decadência de um outro templo, centenário, localizado na mesma avenida, e castigado pelo tempo. A Paróquia de São João Batista, inaugurada em 1908, é agora ofuscada pela suntuosidade do megatemplo neopentecostal.
Com problemas sérios em sua estrutura, a Paróquia sofre com infiltrações e rachaduras, e já não recebe tantos fiéis como nos tempos áureos. Parte da debandada se deve à busca por conforto: muitos católicos deixaram a histórica igreja no centro para frequentarem missas nos bairros. Por outro lado, a queda vertiginosa do número de fiéis católicos no Brasil, e o crescimento espantoso dos evangélicos, ajuda explicar em parte a derrocada da construção histórica.
O contraste entre as duas construções pode também ser tomado como símbolo da maneira diferente que as duas tradições cristãs olham atualmente a missão do “Ide”.
De acordo com o portal iG, ressalta as diferenças entre a construção idealizada pelo bispo Edir Macedo – que pretende transformar o megatemplo em ponto turístico – e a humilde Paróquia de São Judas Tadeu. “São 100 mil metros quadrados de área construída e sustentada por colunas de quase 60 metros de altura cobertas por Taltishe, pedras israelenses que também revestem o Muro das Lamentações. Enquanto isso, o terreno da Paróquia ocupa exatamente um décimo do lote do Templo de Salomão […] O órgão de tubos, alemão, à época um dos maiores da cidade e do Brasil, hoje jaz empoeirado em uma das torres da igreja, que se vale de instrumentos menos solenes, como pandeiro e violão, para acompanhar a liturgia”, escreveu a jornalista Bruna Talarico.
O padre responsável pela Paróquia, Marcelo Monge, acrescenta uma mudança na característica do bairro para a fuga de fiéis: “O Brás tem perdido moradores na mesma medida em que tem ganhado caráter comercial. Antes, em sua origem, era um bairro de imigrantes italianos de grande frequência religiosa. Agora, são poucos, mas fiéis membros da comunidade os que vivenciam a Paróquia”, resume.
Com um orçamento de R$ 200 mil, o padre Marcelo Monge se esforça para manter o templo de pé. A reforma iniciada há seis meses pretende eliminar os problemas estruturais mais graves que ameaçam a integridade do edifício.
Símbolos da fé cristã no bairro
O bairro do Brás é atualmente um dos centros de comércio popular na capital paulista, mas nem sempre foi assim. Antigamente, abrigava fábricas gigantescas e casas humildes de trabalhadores que eram em sua maioria, descendentes de italianos.
Além do Templo de Salomão e da Paróquia de São João Batista, há outros templos cristãos menos famosos no bairro, como a sede da Congregação Cristã no Brasil e a sede da Assembleia de Deus no Brás, dirigida pelo pastor Samuel Ferreira, filho do bispo Manoel Ferreira, e integrante do Ministério de Madureira.