O centro de denúncias de abuso sexual infantil na comunidade das Testemunhas de Jeová recebeu 278 relatórios desde sua criação, em dezembro. Os dados foram revelados pelo administrador do centro de informação da organização de vítimas Reclaimed Voices, na última quarta-feira, 02 de maio.
De acordo com o portal holandês NRC, as denúncias abrangem os últimos quarenta anos e referem-se a abusos “no sentido mais amplo da palavra”, segundo Frank Huitiling, da Reclaimed Voices. As Testemunhas de Jeová, no entanto, teriam se recusado a entrar em conversações com a entidade.
“Desde comportamento transfronteiriço como afeto, até estupro e incesto. Em todos os casos, são ofensas criminais”, afirmou Huitiling. Em alguns casos, o abuso denunciado é de longo prazo, em outros, incidental. “E em uns casos, os pais são os que cometem o abuso, enquanto em outros casos, eles são portadores de cargos dentro da igreja”, acrescentou.
A entidade Reclaimed Voices procura, segundo o representante, se mobiliar em casos extremos: “Nós relatamos em situações urgentes e inseguras”, diz Huiting, recusando-se a revelar quantas vezes isso aconteceu por ter assumido compromisso com as vítimas por sua privacidade. “Além disso, nos referimos a pessoas que necessitam de atendimento psicológico para ajudar os trabalhadores”, contextualizou.
A Reclaimed Voices acusa as Testemunhas de Jeová de não querer discutir o abuso. No final do ano passado, a denominação disse estar aberta ao contato, mas depois disso não se recebeu ninguém da entidade.
“Nós realmente nos perguntamos se você está falando sério sobre o problema de abuso sexual dentro de sua comunidade”, questionou a Reclaimed Voices em uma carta aberta no mês passado. Nela, a entidade pede que a organização religiosa retome o diálogo sobre o problema.
As Testemunhas de Jeová não responderam diretamente às alegações em um comunicado divulgado na última quarta-feira. No entanto, a denominação diz que “todo caso de abuso sexual infantil é demais” e precisa ser tratado de forma individualizada: “Não deve, portanto, haver mal entendido, já que estamos dispostos a falar com vítimas individuais e dar-lhes a atenção pessoal de que necessitam”, acrescentou o documento.
Em fevereiro passado, a RTL News revelou que as Testemunhas de Jeová nos Países Baixos impedia que denúncias de abuso fossem feitas à Polícia e à Justiça. Seriam “dezenas, possivelmente centenas” de casos, com conhecimento da direção da entidade.
As autoridades judiciais afirmaram que não tomarão as medidas necessárias para receber os documentos antes que uma acusação formal seja feita: “O Ministério Público não quer envolver uma vítima contra sua vontade em processo criminal, porque isso pode ser prejudicial mais uma vez”.
As denúncias de abuso recebidas pelas Testemunhas de Jeová são primeiramente tratadas em um sistema jurídico interno, de acordo com o jornal RTL Nieuws. A denominação possui seus próprios tribunais, formado por líderes dentro da igreja. Eles costumavam impor punições leves aos perpetradores de abuso, e em casos extremos os expulsam da igreja.