Uma reedição de uma iniciativa lançada há poucos anos quer formar uma bancada de evangélicos socialistas, defendendo valores progressistas. O pastor Ariovaldo Ramos é um dos líderes do movimento, que conta com outros fiéis afeitos à ideologia de esquerda.
Chamada Bancada Evangélica Popular (BEP), o movimento político de defesa do socialismo tem a pretensão de desassociar a imagem dos evangélicos do conservadorismo e defender bandeiras como a ideologia de gênero.
Antes da atual iniciativa, Ariovaldo Ramos tentava promover a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, grupo que enviou militantes à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR) para protestar contra a prisão do ex-presidente Lula (PT) depois de ter sido condenado em duas instâncias por corrupção e lavagem de dinheiro.
“Nosso setor evangélico tem participado de forma negativa na política, com lideranças e um projeto de poder que não combinam com os valores do evangelho. Ferem a laicidade do Estado, cultivam a cultura do ódio e prejudicam a luta por justiça social”, disseram os integrantes da BEP em uma publicação feita em 14 de julho.
Os fundadores da BEP são todos do estado de São Paulo, identificou o jornal Gazeta do Povo, e reúne integrantes da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, do Coletivo Inadequados e do Evangélicas Pela Igualdade de Gênero.
Membros de igrejas não-denominacionais como a Comunidade Cristã na Zona Leste (CCZL) e e a Igreja da Garagem, o grupo conta também com membros de igrejas históricas, como a Igreja Metodista da Luz.
A ideia é que a BEP alcance relevância e seja capaz de interferir diretamente na política, com seus membros tornando-se filiados a partidos e até elegendo candidatos: “É nosso propósito ocupar as câmaras e assembleias com uma bancada evangélica popular, que lute e defenda os direitos de nosso povo”, anuncia o grupo.
“À luz da palavra de Deus, queremos promover políticas públicas concretas que cessem com a desigualdade social e promovam justiça, paz e dignidade para todas e todos”, acrescenta o comunicado.
Para os integrantes da BEP, a bancada evangélica tradicional, defensora de valores conservadores, promove o que chamam de “cultura do ódio”. E em resposta a isso, apresentam-se como defensores do socialismo, com visões semelhantes ao marxismo no que se refere ao modelo econômico, com rejeição ao capitalismo.
Ariovaldo Ramos, um dos idealizadores da BEP, disse que “a fé cristã sempre foi socialista” e que a Bancada Evangélica Popular atuará somente com partidos que tenham o socialismo como bandeira: “Nós temos um projeto socialista, que é o projeto cristão”, alegou.
O pastor e escritor disse que a BEP defenderá o meio ambiente, a igualdade de gênero e a “igualdade entre todos os seres humanos”, promovendo o antirracismo e o fim do capitalismo, que é definido por ele como “um sistema feroz, selvagem, que premia a acumulação e que estabelece a exclusão de seres humanos”.
Outro integrante é Samuel Oliveira, membro da Comunidade Cristã na Zona Leste (CCZL), que tem sido porta-voz do movimento, dizendo que a BEP será oposição ao “setor mais conservador, e totalmente entregue, vendido e comprado pelo sistema financeiro, pelo capital e por toda uma elite, uma classe dominante, que usa da sua suposta identidade evangélica para poder conduzir as massas do nosso povo evangélico”.
O progressismo defendido pelos evangélicos de esquerda se faz presente até no vocabulário: “Paz e bem a todos, todas e todes (sic)”, diz a BEP na legenda de apresentação do vídeo de lançamento, fazendo referência à ideologia de gênero, que é parte das bandeiras do grupo.
“A igreja evangélica passa uma mensagem muito ruim desde alguns anos para o país, dando a impressão de que nós somos um povo reacionário, pró-capitalista e repleto de fobias. Isso não é verdade”, criticou o pastor Ariovaldo Ramos, argumentando a favor da bandeira progressista.