Repercutiu esta semana em diversas mídias pelo mundo a entrega do prêmio Templeton 2019, considerado o Nobel do diálogo entre ciência e espiritualidade, concedido ao astrônomo e físico brasileiro Marcelo Gleiser.
Criado em 1972 pela Fundação John Templeton, é a primeira vez na história que um latino-americano ganha o prêmio, que tem como gratificação 1,1 milhão de libras esterlinas, o equivalente a R$ 5,5 milhões.
Nascido no Rio de Janeiro, mas vivendo nos Estados Unidos desde 1986, onde ensina filosofia natural em Appleton e física e astronomia no Dartmouth College em Hanover, New Hampshire, Marcelo Gleiser (60) ficou conhecido no Brasil por apresentar a série de 12 episódios ‘Poeira das Estrelas’, no Fantástico, em 2006.
Com a premiação, diversas mídias apresentaram o físico como sendo ateu, o que está incorreto. Gleiser, na verdade, é um agnóstico. Ou seja, uma pessoa que acredita ser impossível o ser humano obter conhecimento suficiente para atestar a veracidade de questões metafísicas, isto é, sobre o mundo espiritual.
O próprio Gleiser declarou na segunda-feira (18), para à Agence France-Presse, que “o ateísmo é inconsistente com o método científico. Devemos ter a humildade para aceitar que estamos cercados de mistério”.
“O ateísmo é uma crença na não-crença. Então você nega categoricamente algo contra o qual não tem provas. Mantenho a mente aberta porque entendo que o conhecimento humano é limitado”, completa.
Assim, Marcelo Gleiser não nega a existência de Deus. Ele apenas acredita não ser possível comprová-lo por meio das ferramentas humanas, o que muitos autores cristãos questionam, como Alister McGrath e Josh McDowell, por exemplo.
O astrônomo também explica que não há qualquer incompatibilidade entre ciência e fé, uma ideia ainda muito difundida socialmente, mas que é fruto da ignorância dos que não conhecem a história da própria ciência.
“A ciência não mata Deus”, diz ele. “A compreensão e a exploração científica não é apenas sobre a parte material do mundo. Minha missão é trazer para a ciência e para os interessados na ciência esse apego ao mistério. Fazer o público entender que ciência é apenas mais uma maneira de entendermos quem somos”, explica.
“Quando você ouve cientistas muito famosos fazendo pronunciamentos como ‘a cosmologia explica a origem do universo’ e ‘não precisamos mais de Deus’, é um absurdo completo, porque nós não explicamos a origem do universo”, conclui.