O biólogo, escritor e ativista ateu Richard Dawkins está sendo “cancelado” pelos pares do mundo acadêmico por sua postura que questiona aspectos da ideologia de gênero. A entidade American Humanist Association (AHA) retirou um prêmio concedido a ele em 1996 por considerar seus questionamentos preconceituosos.
Dawkins é um famoso ativista ateu que e vive rodeado de polêmicas, seja por suas declarações sobre religião, seja por incomodar setores da sociedade com suas percepções a respeito do que acontece no mundo, como quando afirmou que o cristianismo é a única arma da humanidade contra o extremismo muçulmano.
Agora, a AHA decidiu retirar o prêmio que havia concedido a ele 25 anos atrás por considerar que seus questionamentos sobre a ideologia de gênero serviram apenas para “rebaixar grupos marginalizados” usando “o disfarce de discurso científico”.
De acordo com informações do The Guardian, um tweet publicado por Dawkins no início deste mês, no qual ele comparava as pessoas trans a Rachel Dolezal, a ativista dos direitos civis que se passou por negra durante anos, foi o motivo do “cancelamento”.
“Em 2015, Rachel Dolezal, uma pessoa branca presidente da NAACP, foi vilipendiada por se identificar como negra”, escreveu Dawkins no Twitter. “Alguns homens optam por se identificar como mulheres, e algumas mulheres optam por se identificar como homens. Você será vilipendiado se negar que eles são literalmente o que se identificam. A discutir”, acrescentou o biólogo.
A reação à publicação politicamente incorreta de Dawkins foi imediata, e o biólogo respondeu às críticas com um novo tweet: “Não pretendo menosprezar as pessoas trans. Vejo que meu questionamento acadêmico ‘discutir’ foi mal interpretado como tal e deploro isso. Também não era minha intenção me aliar de forma alguma com os fanáticos republicanos nos EUA que agora exploram essa questão”.
Entre os críticos estava o trans Alison Gill, vice-presidente de assuntos jurídicos e políticos da American Atheists, que se identifica como mulher. Dizendo que os comentários de Dawkins reforçam narrativas perigosas e prejudiciais, acrescentou: “Dadas as repercussões para milhões de pessoas trans neste país, nesta vida que temos que viver, como ateísta e como mulher trans, espero que o Professor Dawkins trate este assunto com maior compreensão e respeito no futuro”.
Ativista ateu e politicamente incorreto
Em 2015, Dawkins já havia contrariado a patrulha progressista: “A mulher trans é uma mulher? Puramente semântico. Se você definir por cromossomos, não. Se por auto-identificação, sim. Eu a chamo de ela’ por cortesia”, escreveu na ocasião.
Diante da repercussão, a AHA decidiu cancelar o prêmio dado ao biólogo. Na ocasião, em 1996, a entidade considerava que Dawkins tinha “contribuições significativas” na comunicação de conceitos científicos ao público. Agora, o mesmo rigor científico serviu para excomunga-lo do clube.
Para justificar a decisão, a entidade humanista disse que Dawkins “acumulou nos últimos anos uma história de fazer declarações que usam o disfarce do discurso científico para rebaixar grupos marginalizados, uma abordagem antiética aos valores humanistas”.
O comunicado da AHA diz ainda que os questionamentos sobre a ideologia de gênero feitos famoso ativista ateu suscitam a ideia de “que as identidades dos indivíduos trans são fraudulentas, ao mesmo tempo em que ataca a identidade negra como uma que pode ser assumida quando conveniente”, ao mesmo tempo que suas “tentativas subsequentes de esclarecimento são inadequadas e não transmitem nenhuma sensibilidade nem sinceridade”.
A intolerância ao questionamento é universal entre progressistas. Em 2020, a escritora JK Rowling (da saga Harry Potter) devolveu um prêmio dado a ela pela Organização de Direitos Humanos Robert F Kennedy (RFKHR na sigla em inglês), depois que sua presidente, Kerry Kennedy, criticou suas opiniões sobre as questões transgênero.
“Estou profundamente triste que RFKHR tenha se sentido compelida a adotar essa postura, mas nenhum prêmio ou honra, não importa minha admiração pela pessoa que o recebeu, significa tanto para mim que eu perderia o direito de seguir os ditames de minha própria consciência”, disse JK Rowling na ocasião.