O pastor Bob Fu, fundador da organização ChinaAid, que monitora os índices de perseguição religiosa na China e presta auxílio aos cristãos perseguidos, fez uma grave denúncia durante uma audiência pública no Congresso Americano na última quinta-feira, dizendo que o Governo chinês pretende “reescrever” a Bíblia para adequá-la aos interesses do Partido Comunista do país.
Bob Fu imigrou para os Estados Unidos em 1997 e desde então, através da ChinaAid, ele tem sido uma importante voz em favor da liberdade religiosa na China. Porém, o pastor disse que o país vive agora um dos piores momentos da sua história, devido a intensificação da perseguição contra os cristãos no Governo Xi jinping.
“A liberdade religiosa na China chegou realmente ao pior nível que não foi visto desde o início da Revolução Cultural pelo presidente Mao [Zedong] nos anos 1960”, disse ele aos integrantes do Subcomitê de Relações Exteriores da Câmara sobre a África, Saúde Global, Direitos Humanos Globais e Organizações Internacionais.
O pastor disse que o Movimento dos Três Patriotas e o Conselho Cristão Chinês (órgãos protestantes sancionados pela China) criaram um plano que visa “promover a sinicização do cristianismo”. Na prática, se trata de uma adaptação da doutrina cristã aos ideais do Partido Comunista Chinês, o único do país.
Fu explica que a proposta finalizada em março pelos órgãos sancionados pelo Governo visa “cultivar e implementar os valores centrais socialistas” como referência para a regulamentação da atividade religiosa no país.
Para isso, Fu ressalta que o regime pretende “retraduzir” o Antigo Testamento e adicionar comentários ao Novo Testamento. “O plano deixou claro que ‘sinicização significa mudar o ‘cristianismo na China’ para um ‘cristianismo chinês’”, disse ele, destacando que “o coração e a alma da sinicização do cristianismo é sinicizar a teologia cristã”, o que significa “re-traduzir a Bíblia ou reescrever comentários bíblicos”.
Sinicização, também conhecido como “chinalização”, é o processo pelo qual o Governo chinês molda outras culturas de acordo com os padrões culturais da China, eliminando o que eles acreditam poder ameaçar os costumes e estilo de vida chinês em geral. Dessa forma, em uma sociedade controlada ideologicamente, valores de liberdade como os ensinados pelo cristianismo podem ser ameaças ao regime.
“Existem esboços de que a nova Bíblia não deverá parecer ocidentalizada, mas sim chinesa, refletindo a ética chinesa do confucionismo e do socialismo”, disse Fu, segundo informações do Christian Post. “O Antigo Testamento será confuso. O Novo Testamento terá novos comentários para interpretá-lo”.