A retomada do julgamento que pode resultar na descriminalização do uso de maconha no Brasil foi criticada pelo reverendo Ageu Magalhães. Em uma publicação nas redes sociais, ele ponderou que a medida, caso se concretize, levará a mais consumo e outras formas de ilegalidade.
Ageu Magalhães é um pastor presbiteriano que tem se posicionado de maneira contundente sobre dilemas sociais em determinadas matérias. Em sua conta no Instagram, escreveu: “Não seja enganado: facilitar a aquisição estimula o consumo. A pornografia era restrita nos anos 80, hoje é fácil o acesso e o seu consumo só cresce”.
A comparação com a pornografia se dá por dois aspectos: a essência viciante e degradante que ambas exercem sobre o ser humano, e pela compreensão de que representam uma manifestação do pecado.
Em sua análise, Ageu Magalhães pontuou que a ideia de que drogas legalizadas são a solução para o fim do tráfico é ingênua: “A maconha é porta de entrada para drogas mais fortes. O tráfico não acaba com a descriminalização, pelo contrário, a inserção de impostos faz com que haja mercado paralelo, com drogas mais baratas, comandado pelos traficantes. Exemplo disso é o mercado paralelo de cigarros, que movimenta 1,3 bilhão de reais por ano; e o mercado ilegal de bebidas, que gira 10 bilhões de reais/ano”.
Efeitos nocivos
O psiquiatra Valentim Gentil Filho, professor titular de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), concedeu uma entrevista falando sobre os efeitos da maconha sobre o corpo humano, e expressou suas dúvidas sobre o uso medicinal de elementos da erva conhecida popularmente como maconha.
Gentil Filho considera que as pesquisas sobre o uso medicinal dessa droga são inconclusivas: “É preciso comprovar, de fato, que essas substâncias são melhores ou igualmente eficazes às alternativas existentes, e, para além, que não ofereçam nenhum tipo de risco. Em vez de nos preocuparmos com a prevenção de danos, estamos expostos à mais ampla promoção do uso de substâncias psicoativas da história”, disse à revista Poder.
O atual julgamento no Supremo Tribunal Federal não tem conexão com o uso medicinal, mas sim, com o uso de pequenas quantidades por dependentes químicos. E é a dependência, ou vício, a principal preocupação do psiquiatra:
“Ao contrário do que se ouve, ela pode fazer mais mal do que o álcool ou o tabaco, embora de forma diferente. A identificação de alguns princípios ativos, como o tetraidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD), e a descoberta do ‘sistema endocanabinoide’, cujas funções são pouco conhecidas, despertaram o interesse médico-científico e provocaram uma corrida por grandes ganhos financeiros”, escreveu Gentil Filho em um artigo publicado na revista Veja.
Nesse mesmo artigo, ele menciona um estudo de 2018 publicado no Translational Psychiatry indicando que o tetraidrocanabinol (THC) resultava em alteração de funções relacionadas à biologia do RNA (ácido ribonucleico, na sigla em inglês) e à regulação da cromatina, semelhantes aos encontrados no autismo e na esquizofrenia. A pesquisa em questão foi feita usando neurônios derivados de células-tronco.
Em 2012, um estudo publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences revelou que o uso da droga representa redução de oito pontos no Q.I. de pessoas entre os 18 e os 38 anos.
“Diversas outras pesquisas revelaram alterações cognitivas, com prejuízos para a memória e as funções executivas, e fica a dúvida se isso é reversível. Resta a esperança de que a pronta interrupção do uso impeça danos de longo prazo, mas há claros indícios de menor rendimento escolar e na carreira profissional dos usuários persistentes de cannabis”, resumiu o psiquiatra.
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