A velha polêmica envolvendo filmes relacionados à Igreja Universal do Reino de Deus e a distribuição de ingressos voltou a ser assunto na grande mídia com a estreia de Nada a Perder 2, continuação do longa-metragem que narra a história de vida do bispo Edir Macedo.
A estreia de Nada a Perder 2 aconteceu na última quinta-feira, 15 de agosto, com a expectativa de superar a bilheteria do antecessor, que superou 12 milhões de ingressos vendidos e se tornou o filme nacional mais visto da história, à frente de Os Dez Mandamentos, filme produzido a partir da novela homônima veiculada pela Record TV, e que somou pouco mais de 11 milhões de espectadores.
Este segundo capítulo da saga, inspirada na trilogia de livros escritos pelo jornalista Douglas Tavolaro, aborda as diversas polêmicas que orbitam a Universal e Edir Macedo, mostrando o chute em uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, em 1995, e a inauguração do Templo de Salomão, em 2014.
As salas de cinema que exibiram Nada a Perder 2 na estreia estavam com ingressos esgotados, mas obreiros e fiéis da Igreja Universal foram vistos pela reportagem do portal Uol supostamente distribuindo ingressos para quem quisesse assistir ao filme. Ao todo, o longa está sendo exibido em 800 salas de cinema do país nesta primeira semana.
Repórteres do Uol foram ao cinema do shopping Metrô Itaquera, em São Paulo, que era o local com mais sessões esgotadas na capital paulista. A intenção era assistir ao filme e acompanhar a movimentação.
“A reportagem conseguiu adquirir um ingresso para a primeira sessão do dia, às 12h30, comprando com antecedência na internet. Já na noite de ontem, a menos de 24 horas da estreia, o site de venda de ingressos perdeu a conexão com o cinema de Itaquera. Mais cedo, no local, ainda foi possível comprar mais uma entrada para a sessão das 15h30, que tinha cerca de 12 lugares disponíveis, embora a sala não tenha operado com lotação máxima. As sessões de final da tarde e noite se esgotaram rapidamente”, diz a matéria publicada pelo portal.
Em alguns casos, a aquisição de ingressos para o filme só era possível para o dia seguinte. Mas, ao mesmo tempo em que não se podia comprar as entradas, elas eram oferecidas gratuitamente por obreiros da Universal, que haviam comprado todos os lugares das sessões seguintes. “Ao abordar um dos obreiros, que se identificou como fiel da Igreja Universal de Itaquera, a reportagem conseguiu mais um ingresso para a sessão das 18h. Sem se identificar, pessoas abordadas pela reportagem também confirmaram que conseguiram ingressos através da igreja”, diz a matéria.
Uma mulher entrevistada disse que a oferta dos ingressos era a única forma de ir a um cinema: “Como vou ao cinema se não tenho dinheiro nem para o ingresso?”, comentou. “Aí apareceu uma testemunha de Jeová e disse: ‘Tenho oito’. E eu disse: ‘Oh, glória, vamos!’”, acrescentou.
Outro grupo, formado por duas mulheres com crianças pequenas também disse ter ganhado os ingressos de amigos que frequentam a denominação fundada por Edir Macedo. Elas tinham um ingresso de sobra e ofereceram aos repórteres.
“Os ingressos doados à reportagem foram comprados no dia 4 de agosto, nove dias antes da estreia – um deles às 16h22 e outro às 16h45. As informações impressas no bilhete ainda apontam que cada ingresso que era distribuído de graça na porta do cinema custou R$ 14. A meia-entrada comprada pela reportagem no mesmo dia da estreia custou R$ 15,50”, contextualizou o Uol.
Compras
Quando Os Dez Mandamentos estreou nos cinemas em 2016, repetindo cenas que já haviam sido exibidas na novela, o mesmo fenômeno foi registrado: fiéis e obreiros comprando ingressos em massa para distribuir a outros nas filiais da Igreja Universal do Reino de Deus, embora a denominação declare que não incentiva tal prática, mas também não desestimula.
“Embora não seja ilegal, a tática reflete em fileiras vazias nas sessões supostamente esgotadas. Mas, ao menos no shopping Itaquera, as igrejas conseguiram levar um público considerável ao cinema”, pontua a reportagem.
Os números oficiais da venda de ingressos nos cinemas aos finais de semana no Brasil, que levam em consideração as compras feitas às quintas e sextas-feiras, são divulgados às segundas. Atualmente, o remake do filme O Rei Leão vem ocupando o topo das bilheterias.