A reação às declarações mais recentes do pastor Ed René Kivitz sobre “atualizar a Bíblia” continua intensas. Um dos pontos de seu discurso no evento “A Bíblia Fala Hoje” foi uma crítica à hermenêutica fundamentalista, e o pastor Pedro Pamplona contrapôs a interpretação do líder da Igreja Batista de Água Branca.
No trecho da palestra em questão, Ed René Kivitz afirma que a interpretação da Bíblia demanda que “além da pergunta ‘o que isso significa hoje?’, a pergunta ‘isso que significa vale ainda hoje, é vigente, está valendo?’” precisa ser feita. “Porque se você não faz essa pergunta, você está congelado no tempo. Qual tempo? O tempo em que o texto foi escrito”, insiste.
Em seguida, ele apresenta um texto de 1 Timóteo: “Quer um exemplo simples? O apóstolo Paulo recomenda que os presbíteros devem ser maridos de uma só mulher, sugerindo que quem não postula a função presbiteral pode ter mais de uma mulher. Isso vale ainda hoje? Eu posso chegar na IBAB e dizer assim ‘irmãos, aqui quem quer ser presbítero tem que ser marido de uma só mulher’. Levanta um gaiato e diz ‘pastor, mas eu não quero ser presbítero’. Aí eu falo ‘irmão, então…’ Vale?”.
Desonestidade
O pastor e escritor Pedro Pamplona, da Igreja Batista Filadélfia em Fortaleza (CE), usou sua conta no Instagram para rebater a tese de Kivitz, e afirmou que considera seu discurso intelectualmente desonesto.
Citando o texto de Hebreus 10 como uma indicação de práticas que se tornaram obsoletas e deixaram de vigorar no culto a Deus, Pamplona diz que a interpretação fundamentalista das Escrituras entende “que aquilo que não está mais vigente é o que a Bíblia diz que não está mais vigente”.
“Olha o que o Kivitz está fazendo! Primeiro, é absurda a interpretação dele de que Paulo está defendendo que o homem que não é presbítero pode ter mais de uma mulher, como se Paulo fosse um defensor da poligamia na época do Novo Testamento. Se você procurar por vários teólogos, intérpretes, pastores, eu te desafio a achar um que tenha essa interpretação. Isso não faz parte da interpretação histórica, mainstream. Você pode ir a fundamentalistas, conservadores, menos conservadores, até entre os progressistas (a maioria deles) você não vai encontrar esse tipo de interpretação”, protestou.
Para Pamplona, “Kivitz está criando um problema que não existe” para então se apresentar como detentor da solução: “Essa interpretação é falha – e eu diria desonesta. Ele sabe que essa não é a interpretação que os fundamentalistas defendem, que não é essa a interpretação que 99,9 % de todos os teólogos defendem. É uma interpretação que, se existir, está no tipo de nicho terraplanista da interpretação bíblica”.
“Ele se apresenta como uma solução, como uma resposta ao fundamentalismo, e a resposta é que esse texto ‘está desatualizado’, que esse texto ‘não é mais vigente’, que esse texto da ‘poligamia de Paulo’ não vale mais para hoje. Só que os fundamentalistas e os crentes nunca defenderam isso”, enfatizou Pamplona.
A Bíblia interpreta a si mesma
O pastor cearense sugeriu que o líder da IBAB deveria recuar em sua argumentação: “Uma pergunta que eu faço para o Kivitz é: onde a Bíblia diz que esse texto não é mais vigente? Qual o critério que ele usa para dizer que um texto não é mais vigente? Esse é um texto que fala da liderança, do caráter do presbítero, do pastor da igreja. Não é mais vigente hoje? Por que? A Igreja acabou, passou? Não existe mais presbitério, não existe mais pastoreio? Não, não acabou. Há alguma inferência teológica, uma implicação de interpretação que diga que esse texto não é mais vigente? Não há. Isso surge da cabeça do Kivitz”.
“Esse é o problema de você dizer que a Bíblia precisa ser atualizada. Esse é o problema de você não olhar para o que a Bíblia diz sobre ela mesma, mas olhar para o que a crítica diz, ou o que o Kivitz diz sobre a Bíblia. Ele não tem padrão. O padrão se torna ele mesmo, ele é uma mente acima da mente de Deus, que inspirou as Escrituras”, ironizou o pastor.
“Infelizmente, Ed René Kivitz e essas pessoas e ideias ao seu redor, que compactuam e propagam suas ideias, não devem ser seguidos por nós, a não ser que se arrependam disso. E essa é a minha oração. É triste ver que, para muitos crentes, é mais fácil enxergar erros na Bíblia do que enxergar erros no seu pregador favorito, é mais fácil querer que a Bíblia se atualize do que querer que seu pregador se atualize”, finalizou Pedro Pamplona.