Um dos principais temas da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PSL) foi a flexibilização da posse de armas a partir de critérios básicos como treinamento e antecedentes criminais. O assunto, no entanto, é controverso no meio evangélico, que se divide em opiniões bastante diversas.
A cautela sobre o assunto é bastante justificada, pois trata-se de matéria que pode representar violência e morte. Nos próximos dias, o presidente deverá publicar um decreto flexibilizando as exigências para que a população elegível receba autorização para a posse de armas. Já o porte necessitaria de uma iniciativa do Congresso Nacional.
Há um projeto de autoria do deputado Peninha Mendonça (MDB) em andamento. Para entrar em vigor, o PL 3722/2012 precisaria de maioria simples na Câmara e no Senado, além da sanção presidencial.
A favor da posse
Dentre os líderes evangélicos de maior representatividade numérica, o bispo Robson Rodovalho, líder da igreja Sara Nossa Terra, se posicionou favorável à posse de armas, principalmente em áreas rurais: “O porte é desnecessário. Creio que o dano causado à sociedade seja maior com todo mundo armado num faroeste. Não queremos bangue-bangue”, declarou Rodovalho ao jornal O Globo.
Outro que se apresenta favorável à posse é o pastor e deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), afilhado político do pastor Silas Malafaia: “A maioria dos evangélicos não quer ter armas. Defendemos a vida. A gente sabe que isso vai provocar mortes em discussões de trânsito, em bar, assim como uma maior incidência de casos de violência como ocorrem nos Estados Unidos”, pontuou.
“A nossa defesa é a Deus e, depois, estão as instituições terrenas de segurança pública. Uma coisa é a posse dentro da casa, outra coisa é o porte”, acrescentou Cavalcante.
Já o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC), mentor de Cavalcante, tem postura diversa: “Eu pessoalmente sou contra armas e qualquer tipo de armamento”, afirmou Silas Malafaia.
Arolde de Oliveira (PSD-RJ), deputado federal e senador eleito para o mandato entre 2019 a 2026, afirmou ser favorável à flexibilização da posse, mas não tem muitos motivos para defender o porte: “Se você é a favor da vida, da família, da propriedade, precisa ter condições de autodefesa e a posse é necessária. O porte já é mais complexo. Teria que fazer testes para evitar que o armamento chegue nas mãos de psicopatas e malucos”, declarou.
A favor do porte
Apesar de grande parte dos líderes evangélicos serem contrários ao porte de armas, a ideia encontra simpatizantes entre algumas figuras de influência, como o pastor Samuel Câmara, presidente da Convenção da Assembleia de Deus no Brasil (CADB) e líder da Igreja-Mãe, em Belém (PA).
“O Estado precisa se mostrar eficiente no combate aos bandidos. Caso contrário, o homem de bem terá que se habilitar ao porte para legítima defesa”, disse Câmara, explicando sua posição mais radical sobre o assunto.
Outro favorável é o deputado Marcos Rogério, integrante da bancada evangélica. Ele acredita que a autorização para o porte de arma de fogo pode gerar uma sensação de segurança: “Hoje você proíbe as pessoas de bem de terem armas, mas o bandido está armado. É claro que é preciso de critérios claros e justificáveis para conceder a licença”, disse o parlamentar, membro da Assembleia de Deus.