Por quase dois anos, alunos – especialmente alunas – da escola St. Dominic Savio, em Niagara Falls, se referiam a Christian Butler, professor de computação em tempo parcial, como “o pervo”. O apelido surgiu pouco depois da abertura da escola, em 2002, quando Butler começou a fazer comentários lascivos em classe e, em contato pessoal, elogiou uma menina pré-adolescente pela beleza de seu corpo, de acordo com documentos judiciais e entrevistas com ex-alunos, pais e colegas.
Os alunos ligavam os laptops que lhes eram reservados e encontravam imagens pornográficas, tanto fotos quando desenhos. Pelo menos duas vezes, disseram alunos, Butler projetou imagens grosseiras em aula, incluindo a de duas mulheres de seios nus lutando na lama.
Ele foi sentenciado a quatro anos de prisão, na quarta-feira, por violar os termos de liberdade condicional de seu acordo de admissão de culpa assinado em 2005, sob a acusação de posse de pornografia infantil e de causar riscos ao bem-estar de um menor. Duas das famílias das vítimas decidiram abrir processo contra diocese católica de Buffalo, solicitando indenização de US$ 1,5 milhão e um pedido formal de desculpas, sob a alegação de que a escola e representantes da Igreja ignoraram repetidas queixas sobre Butler até que uma ex-aluna o denunciou à polícia em junho de 2004.
“O que eles fizeram, depois que ele manteve esse comportamento por dois anos?”, perguntou um dos queixosos, Remi Gonzalez, diretor do Conselho da Juventude Católica de Niagara Falls, ministro eucarístico e pai de uma das meninas da escola. “Nada fizeram, e forçaram as crianças a conviver com um predador sexual”.
O caso gerou ira ainda mais forte entre os defensores das vítimas porque a escola foi inaugurada três meses depois que a Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos aprovou uma Carta de Proteção às Crianças e Jovens, em uma assembléia em Dallas. O novo texto impunha tolerância zero contra abusos sexuais. Exigia que as instituições da Igreja “tenham em vigor mecanismos para responder de imediato a qualquer alegação que envolva possível abuso sexual contra menores”, e que “reportassem quaisquer alegações de abuso contra menores às autoridades”.
David Clohessy, porta-voz da Rede de Sobreviventes de Abusos por Religiosos, disse que o fato de que os dirigentes da Igreja não tenham agido rapidamente com relação às queixas contra Butler era “especialmente gritante em termos de lugar e momento”. “Caso eles pretendessem honrar de fato essas promessas, isso deveria ter acontecido logo depois da assembléia de Dallas, e em um ambiente escolar”, disse Clohessy. “Ainda que não se deva tolerar recuos ou descuidos, isso seria compreensível décadas depois que promessas como essas tenham sido feitas, mas não depois de apenas algumas semanas”.
Kevin Keenan, porta-voz da diocese de Buffalo, se recusou a comentar sobre o caso, mas disse que “nós seguimos a política diocesana, que se baseia na carta de Dallas. Levamos esse tipo de queixa muito a sério”.
Um código de conduta assinado por todos os funcionários e voluntários da Igreja na diocese de Buffalo proíbe “conduta física, conversações e outras comunicações com crianças ou jovens adultos que tenham propósitos ou resultados sexuais”, e requer que quaisquer alegações do tipo sejam reportadas às autoridades da Igreja e, quando necessário, à polícia.
Quando Butler foi detido, em junho de 2004, ele foi acusado de passar a mão por sob a saia do uniforme de uma aluna, de sua coxa à sua roupa de baixo, de assediar uma segunda menina verbalmente e de armazenar em seu computador imagens de crianças participando de atos sexuais. Ele se declarou culpado e foi sentenciado pelo juiz Peter Broderick, do tribunal do condado de Niagara, a seis meses de prisão e 10 anos de liberdade condicional.
Em junho, Butler admitiu ter violado os termos de sua liberdade condicional por ter visto imagens de pornografia adulta em seu computador. O juiz Broderick o reprovou, na audiência de sentenciamento, quarta-feira, dizendo que “eu assumi um risco em seu benefício”. “A enormidade dos danos que você causou à escola, às crianças e às famílias – todos desejavam seu escalpo”, apontou o juiz. “Eu não agi assim. Dei-lhe uma chance de mudar sua atitude e me convencer de que seria capaz de controlar seus impulsos. Você me desapontou, e causou problemas a você mesmo”.
A filha de Gonzalez, que falou à reportagem sob a condição de que seu prenome não fosse revelado, disse que começou a se sentir desconfortável na presença de Butler logo no início do ano letivo de 2002/3. “Ele nos olhava de maneira imprópria, se aproximava de nós mais do que deveria, se inclinava por sobre nossos corpos”, conta Gonzalez, que tem 15 anos, hoje.
Na metade do ano letivo, de acordo com o relatório policial, uma aluna de oitava série informou os dirigentes da escola de que Butler havia feito um comentário rude sobre seu corpo, e ele admitiu o fato durante reunião com os pais da menina e a diretora, Patricia Muscatello. Pouco depois, de acordo com diversas entrevistas, a mesma menina disse que Butler a havia perseguida em um refeitório vazio, depois das aulas, e que havia tentado arrancar seu uniforme de cheeleader, até que outro professor interviesse.
Virginia Abbott, professora de espanhol na escola até pouco antes da detenção de Butler, declarou em entrevista recente, sobre a inação dos dirigentes diante das queixas contra ele, que havia conversado muitas vezes com a diretora Muscatello sobre o problema. “Eu informei a ela sobre o que estava acontecendo pelo menos 20 vezes”, disse Abbott. “Sempre que eu falava com ela a respeito, ela ria e dizia – as meninas gostam de reclamar. Christian é inofensivo”.
Fonte: Grande FM