Quando a polícia o prendeu, ele protestou sua inocência de forma veemente. A polícia lhe disse para ficar quieto porque “Ghafar o havia denunciado por blasfêmia e confessou que os dois estavam juntos quando profanaram o Alcorão”.
Shahid Masih saiu há pouco da prisão (leia mais). Ele passou “algum tempo” lá, mas não se lembra quanto. Ele foi acusado sob o artigo 295 C do Código Penal, a conhecida “lei de blasfêmia” que prevê penas muito severas (até a pena de morte) para aqueles que ofendem o profeta do islã ou seus textos sagrados.
Shahid contou: “No caminho para a prisão, continuei a perguntar o que estava acontecendo, mas ninguém me disse outra coisa, a não ser insultos. Na delegacia, fui agredido pela polícia e na prisão apanhei dos outros detentos. Eles me trataram como um escravo, me obrigando a fazer todo tipo de trabalho humilhante. Mas nunca deixei de orar a Jesus”.
Sua mãe, Alice, está muito doente. Apesar da pobreza da família, ela está “muito feliz por ter seu filho de volta à casa, embora ele não possa trabalhar por enquanto”. Shahid acrescenta: “A verdadeira tragédia é essa. Estava na prisão e fui libertado porque a corte me julgou inocente, mas a minha vida está acabada. Ninguém quer me contratar e tenho medo de sair, porque as pessoas acreditam que eu sou um blasfemedor que precisa morrer”.
Khalil Tahir comanda a fundação Adal Trust, que ajuda a comunidade cristã a se defender de acusações injustas. Ele contou: “A maioria dos acusados sob a lei de blasfêmia pertence a minorias religiosas ou sociais e esse é o motivo pelo qual eu defendo essas pessoas perante os tribunais, nas prisões e até depois que elas são libertadas”.
Sem emprego
Pervez Masih é um professor de 33 anos. Ele foi libertado em 8 de abril do ano passado, depois de passar 5 anos preso. O tribunal o libertou porque descobriu que ele é inocente, mas ele ainda enfrenta ameaças das pessoas. Ele não pode sequer construir uma casa, porque precisa estar sempre se mudando.
Durante o julgamento, “um funcionário de alto escalão da administração local me convidou a abraçar o islã e, em troca, eles retirariam as acusações contra mim. Eu recusei e minha defesa nem chegou a ser considerada. Na prisão, vi pelo menos 10 cristãos forçados a se converter. Eu tive sorte, Deus me ajudou a permanecer firme em minha fé”.
Johnson Michael, presidente da organização Bispo John Joseph, disse: “Tenho me encontrado com muitas pessoas, mas nenhuma é como Pervez. Ele é muito forte em sua crença e eu me sinto bastante inspirado pelo seu exemplo”. A associação está ajudando financeiramente o professor porque, como outros ex-detentos, ele não consegue um emprego.
Shahbaz Bhatti, presidente da Aliança de todas as Minorias do Paquistão, afirmou: “É triste que a lei diga uma coisa e os extremistas outra. Conheço pessoas que não podem sequer chegar perto dos lugares onde moraram por anos porque correm o risco de ser mortas. E quase todos os dias tomamos conhecimento de execuções extra-judiciais que permanecem impunes”.
Peter Jacob, secretário executivo da Comissão Justiça e Paz, declarou: “Se alguém é acusado de blasfêmia, mesmo com a absolvição da corte, a vida dessa pessoa se torna deplorável no Paquistão e ela precisa viver escondida e na pobreza.” A família compartilha esse destino, “perdendo todos os direitos sociais e sendo condenada a viver na ignorância e na miséria”.
Até agora, ninguém foi executado por acusações relacionadas à lei de blasfêmia, mas 24 pessoas foram mortas por extremistas que nunca foram presos.
Fonte: Portas Abertas