Saindo do quartel-general da ONU no porto de Naqoura, a apenas dois quilômetros da fronteira, é possível ver a paisagem de ruínas, destruição e terra queimada.
No entanto, na cidade de Alma al-Shaab, que recebeu os primeiros cristãos vindos do oeste, parece que não houve guerra. Os únicos indícios do conflito são as casas vazias e os destroços que podem ser observados na colina vizinha.
Alma al-Shaab serviu de refúgio para milhares de famílias xiitas e povos cristãos de outras regiões que saíram de casa às pressas após os anúncios de bombardeio do Exército israelense.
Já na localidade de Aita al-Shaab, o cenário de destruição é desolador. Os poucos habitantes que voltaram estão tendo problemas para identificar os limites de suas casas ou de suas terras, porque há regiões onde não resta nada, apenas montanhas de escombros.
Mohammed Kasan, diretor de uma escola de ensino secundário, lembrou que “às três em ponto” os israelenses avisaram que “duas horas depois” destruiriam suas casas.
“Peguei minha mulher e meus três filhos e saímos correndo com o que deu tempo de pegar”, disse, depois de abraçar um vizinho cristão que acabou de chegar, ressaltando o fato de eles terem acolhido “pelo menos 6 famílias xiitas em cada uma de suas casas”.
Ainda assim, muitos não tiveram tempo de escapar. Em Aita al-Shaab, ao menos 8 civis morreram pelos bombardeios e outros dois por falta de atendimento médico, além de nove guerrilheiros do Hisbolá, afirmam os moradores.
Desde o anúncio do cessar-fogo, cerca de 10% dos 12 mil habitantes de Aita al-Shaab voltaram para a cidade, onde o emirado do Catar instalou grandes tendas de campanha para receber os que ficaram sem casa.
O Catar também prometeu financiar boa parte da reconstrução da cidade, e enviou vários geradores, cargas de alimentos e material de primeira necessidade.
A eletricidade, a água e o material hospitalar para atender pessoas feridas por pequenos artefatos explosivos e bombas de fragmentação espalhadas por toda a região, e que ainda não explodiram, são as necessidades mais urgentes na zona que se estende por mais de 50 quilômetros ao longo da fronteira.
No hospital de Bint Jbeil, cidade com cerca de 40 mil habitantes, o cirurgião cubano-libanês Abdallah Jouni confirma que continuam chegando cadáveres resgatados sob os escombros, e que há dois dias atenderam três crianças feridas com a explosão de uma bomba de fragmentação.
“Chorei pela primeira vez ao ver uma criança ferida cujos intestinos estavam pendurados”, disse Abdallah, lamentando que não tenha podido fazer nada devido à falta de material, e foi obrigado a enviá-los para outro centro hospitalar em Tiro, a mais de 60 quilômetros.
O hospital de Bint Jbeil foi bombardeado por três projéteis israelenses, que inutilizaram o gerador principal e os caminhões-pipa com água, e abriram um grande buraco na sala dos médicos de plantão.
“A honra militar determina que não se deve matar civis, nem bombardear hospitais, e esta guerra foi uma perfeita caçada aos civis. Crianças não são terroristas”, disse Abdallah, que voltou para Cuba e jurou não voltar ao Líbano enquanto houver guerra.
Fonte: Último Segundo