Mahatma Gandhi, líder indiano que idealizou e fundou o moderno Estado da Índia, foi também um pacifista que pregava a revolução social, e seu legado é enaltecido por muitos pensadores contemporâneos, apesar da contradição existente em seu discurso, que incentiva a desobediência civil como meio do alcance de uma mudança de paradigma.
Não é exagero dizer que Gandhi é idolatrado por muitos, e uma das evidências disso é a venda de uma de suas cartas, na qual se refere a Jesus Cristo como “professor”, mas nega sua divindade, por uma cifra considerável. Ela foi mantida em uma coleção particular desde os anos 1960, e agora está disponível por US$ 50 mil.
No documento, endereçado ao líder cristão e escritor Milton Newberry Frantz em 06 de abril de 1926, Gandhi deixa claro que não considerava os ensinos de Cristo especiais, embora refira-se ao nazareno com deferência e respeito.
O hinduísta que defendia a liberdade religiosa apoiada no “fio comum de amor e estima mútua”, não reconhecia Jesus como a “maior manifestação do oculto”. A carta enviada a Frantz foi uma resposta a uma missiva recebida por ele, em que o americano pedia que ele lesse uma publicação sobre o cristianismo e a divindade de Cristo.
No texto, Gandhi diz que não poderia “subsecrever ao credo” sugerido na publicação, argumentando que a publicação enviada por Frantz dava a entender que a maior manifestação do “oculto” foi Jesus, e ele discordava disso: “Apesar de todos os meus esforços, eu não fui capaz de ver a verdade nessa afirmação”, disse o indiano na carta.
“Não pude ir além da crença de que Jesus foi um dos maiores professores da humanidade. Você não acha que a unidade religiosa não deve ser tomada por uma subscrição mecânica a um credo comum, mas por todos respeitarem o credo de cada um?”, respondeu Gandhi.
“Na minha opinião, a diferença de credo deve existir tanto quanto há diferentes cérebros. Mas importa a quem se todos se apoiarem no fio comum de amor e estima mútua? Eu devolvo o carimbo enviado por você. Ele não pode ser usado na Índia”, completou o líder indiano, que também foi autor de escritos sobre a filosofia e os ensinamentos da religião hindu.
De acordo com informações do jornal O Globo, a empresa que pôs a carta à venda, Raab Collection, destaca a missiva como “uma das melhores cartas sobre religião que Gandhi escreveu, não meramente sobre o cristianismo, mas indo além para expor uma doutrina universalista de respeito por todas as fés e credos”.