São duas faces da mesma moeda: no final de Julho, desapareceram mais dois padres da Igreja Católica clandestina da China, depois de terem sido detidos. Ao mesmo tempo, o Governo promete distribuir gratuitamente 50 mil bíblias a atletas e turistas e batem-se recordes de impressão da Bíblia no país, em exemplares destinados aos cristãos chineses.
A operação de distribuição de bíblias pretende calar as vozes dos que condenam a política da China no que diz respeito ao direito de professar uma religião. Relatórios sucessivos sobre a liberdade religiosa no mundo têm colocado a China na lista dos países que mais atentam contra este direito fundamental.
A Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), uma organização internacional dependente do Vaticano, mas com autonomia de funcionamento, lançou uma campanha de apoio aos católicos na China, para a fazer coincidir com os Jogos Olímpicos. Notando um enorme crescimento do número de católicos – cada ano, há cerca de 100 mil novos baptismos -, a instituição nota, no entanto, que essas pessoas correm “muitos riscos”, quando decidem tornar-se cristãs e que “a perseguição continua”.
A AIS, que tem publicado anualmente um relatório sobre a liberdade religiosa no mundo, afirma que, actualmente, há “pelo menos 12 bispos” detidos “em prisão domiciliária, na prisão ou forçados a viver na clandestinidade”. Na China, há uma estrutura católica clandestina e uma outra – a Associação Católica Patriótica – que é controlada pelo Governo comunista. Mesmo assim, esta não se “livra de sofrer também violências e abusos”, lê-se no relatório de 2006 (o último disponível). Mas as perseguições e ameaças atingem por igual cristãos (católicos e protestantes), muçulmanos, budistas (como no caso do Tibete) ou membros de grupos como a Falun Gong.
Estimativas do Vaticano apontam para a existência de 12 milhões de católicos na China, cerca de um por cento da população do país. As bíblias que serão distribuídas durante os Jogos são bilingues, mas não ficará por aqui a operação de simpatia para com os crentes cristãos: igrejas e lugares de culto na capital e nas restantes cidades olímpicas ficarão abertos à disposição de quem queira, ao contrário do que é normal.
Fonte: Público PT