A revelação de que 19 deputados da bancada evangélica são suspeitos de envolvimento no esquema da venda de ambulâncias e equipamentos superfaturados para prefeituras, com recursos do orçamento da União, abalou a confiança em políticos crentes, eleitos para moralizar o país.
“O Brasil descobriu que tem lobos vestidos de pastores”, escreveu o pastor Ricardo Gondim, da Assembléia de Deus Betesda, de São Paulo, no sítio que mantém na rede mundial de computadores (www.ricardogondim.com.br). Ele criticou as mega “empresas-igrejas” que mercadejam esperança e defendeu uma “reforma ética entre os evangélicos”.
Os líderes evangélicos, destacou Gondim, “não podem permanecer de braços cruzados, corporativamente defendendo meliantes fantasiados de sacerdotes”. Dos 19 deputados evangélicos que respondem inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), dez estão ligados à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e cinco à Assembléia de Deus.
A máfia das ambulâncias, como passou a ser chamada pela imprensa, foi desbaratada, em maio, pela Polícia Federal através da Operação Sanguessuga. A máfia era chefiada pelo empresário Luiz Antonio Trevisan Vedoin e o pai dele, Darci José Vedoin, donos da empresa Planam, que contava com um braço de apoio no Ministério da Saúde, a ex-assessora Maria da Penha Lino.
A Planam mantinha, desde 2001, “lobby” no Congresso Nacional voltado à venda de ambulâncias para prefeituras, superfaturadas até 110% acima do preço do mercado, com recursos de emendas do orçamento da União. As emendas eram apresentadas pelos deputados, que recebiam de 10% a 15% do valor da emenda a título de propina. O nome dos deputados envolvidos na fraude só foi revelado na semana passada.
A Polícia Federal estima que em cinco anos de atividade a máfia das ambulâncias tenha desviado 110 milhões de reais (cerca de 50 milhões de dólares) dos cofres públicos. No momento, 57 deputados federais respondem inquérito no STF, mas o número de envolvidos na fraude pode chegar a 94, segundo o vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Sanguessugas, deputado Raul Jungmann.
O esquema de propina foi confirmado por Luiz Antônio Trevisan e Maria da Penha Lino em depoimentos à Justiça. Eles obtiveram o benefício da delação premiada – a redução da pena em troca de informações. A maioria dos deputados citados nos depoimentos é das bancadas do Rio de Janeiro e do Mato Grosso do Sul, onde a Planam tem sede. Maria da Penha Lino agilizava no Ministério o andamento dos processos.
E agora? – pergunta Gondim no seu comentário. “Depois que se ouviu tanto que a presença de políticos crentes no Congresso salgaria o Brasil, como se organizará a próxima ‘Marcha pela Salvação da Pátria?’” – é outra pergunta do pastor, que se manifestou indignado com a fraude. A bancada evangélica na Câmara federal, com 62 deputados, é a terceira maior em número de parlamentares.
Fonte: ALC Notícias