Um documentário feito por grupo de cristãos na Índia denuncia que hindus extremistas promoveram falsas “reconversões” de cristãos para o hinduísmo.
O diário “Punjab Kesari”, publicado na língua hindi, do norte do país, informou, no dia 22 de março, que quatro famílias cristãs dalits de Balmiki Basti, na cidade de Nahan, Estado de Himachal Pradesh, distrito de Sirmaur, foram “reconvertidas” ao hinduísmo.
Mas o documentário, que traz uma série de fatos e relatos do Conselho Cristão para Toda a Índia (sigla AICC, em inglês), em parceria com o Fórum Cristão de Nahan, revela que nenhum dos membros dessas famílias dalits chegaram sequer a se converter ao cristianismo. Eles foram enganados e acabaram assinando cartas expressando o desejo de se “reconverterem” ao hinduísmo.
A exigência de reconversão foi supostamente relatada pelo presidente da unidade de Himachal Pradesh da Federação para para Dalits e Tribais (AISCSTM, em inglês), disse o reverendo Madhu Chandra, secretário da AICC.
Suspeita-se que a Federação Tribal tenha ligação com extremistas hindus do partido Bharatiya Janata (BJP), braço político do Rashtriya Swayamsevak Sangh.
Tarsem Bharti, um membro do BJP, teria combinado as assinaturas com alguns membros das quatro famílias dalits e entregue os papéis ao escritório do chefe do distrito de Sirmaur com a declaração das “reconversões”.
Testemunhos das famílias dalits
O documentário intitulado “Fraude e violência nas reconversões de hindutva” traz testemunhos das famílias dalits – que se queixaram às autoridades locais do distrito contra o uso fraudulento de suas declarações de “reconversão”.
O mesmo relato das quatro famílias à produção do filme traz a seguinte afirmação: “Nós nunca nos convertemos ao cristianismo e ninguém veio nos converter. Nenhum tipo de oferta ou compensação nos foi oferecido”.
Nos depoimentos, as famílias dizem que não conhecem Tarsem Bharti. “Mas uma pessoa da nossa vila, Rajendra, filho de Atam Ram, que mora em Balmiki Basti, Nahan, estava entre a equipe da AISCSTM que veio nos visitar. Eles nos ofereceram terras, emprego, dinheiro e educação para as crianças. Então nos levaram para o escritório administrativo do distrito de Nahan. Eles falavam em inglês. Nós não falamos inglês, então não podíamos entender o que foi falado às autoridades”, justificou um dos dalits.
Em ação legal de apelação feita às autoridades do distrito contra Tarsem Bharti e os outros, as famílias lamentaram que a falsa informação sobre a suposta “reconversão” delas tenha sido passada aos jornais.
A equipe de Tarsem Bharti chegou à cidade de Nahan, no dia 21 de março, quando os homens das famílias já tinham saído para trabalhar e convocaram as mulheres a irem com urgência ao escritório de administração do distrito a fim de obter fundos, terras e dinheiro para a educação das crianças.
Uma das mulheres contou à equipe da AICC que um extremista hindu local, Rajendra, prometeu que sua filha teria os estudos garantidos, bem como recursos e terra. “Nós confiamos nele e fomos com ele e sua equipe ao distrito… Agora nos sentimos feridas, traídas”.
Outra mulher também compartilhou sua irritação com as táticas usadas por extremistas hindus para obter as assinaturas.
Motivações políticas
No dia 28 de fevereiro, Tarsem Bharti organizou um ritual religioso de “reconversão” de 151 cristãos dalits no templo de Arya Samaj , em Shimla, capital do Estado.
Uma declaração da AICC assegurou que a maioria dos “reconvertidos” não era cristã. O reverendo Madhu Chandra, secretário da AICC, diz que “a intenção por trás destas “reconversões” forjadas é obter vantagem política porque Tarsem Bharti aspira as eleições da assembléia estadual no ano que vem”.
Os partidos em Himachal Pradesh aparentemente acreditam que o tema sobre a reconversão de cristãos tem potencial para polarizar os eleitores das duas religiões em torno dos candidatos.
No dia 30 de dezembro, o Partido do Congresso apresentou um projeto de lei anticonversão, aprovado pela assembléia estadual, mas que ainda não prevê a reconversão. O projeto virou lei em 20 de fevereiro, a partir da assinatura do governador do Estado, mas as regras ainda não foram implementadas.
Exigências
Extremistas hindus exigem a reconversão de cristãos convertidos há mais de uma década, sustentados na justificativa de que os missionários convertem os pobres e os hindus analfabetos, principalmente os dalits e os povos tribais, usando a força e o aliciamento.
Em 1999, Dilip Singh Judeo, um parlamentar do BJP cujo nome é associado ao movimento de reconversão, sobretudo no Estado de Chhattisgarh, teria “reconvertido” pelo menos 165 mil cristãos de diversas áreas tribais, segundo informações da revista mensal “Communalism Combat”, de março de 1999.
Uma reportagem parecida foi publicada no dia 18 de dezembro pelo jornal “Pioneer”, informando que 2.300 pessoas foram “reconvertidas” ao hinduísmo em 2006.
As matérias que se seguiram, contudo, sugeriram que a maioria destas “reconversões” eram falsas.
Em um caso recente, quatro membros de uma família tribal muçulmana reclamaram de terem sido forçadas pelo legislador do BJP,Renuka Singh, a voltarem ao hinduísmo em uma cerimônia que aconteceu no dia 3 de outubro de 2006, em Surajpur, distrito de Sarguja, no Estado de Chhattisgarh .
Depois da queixa, a Alta Corte de Chhattisgarh determinou que a administração estadual assegurasse à família que não seria mais pressionada a adotar a religião hindu, informou o quinzenal “Milli Gazette”, de 16 a 30 de novembro passado.
A publicação trouxe o relato de um muçulmano de 23 anos, Nur-ul. Ele disse que o BJP, sustentado por outros 2 mil apoiadores, atacou sua casa e o forçou a se reconverter do islamismo, em uma cerimônia conduzida. “Minha cabeça foi tosada e minha barba feita pelos apoiadores”, contou.
Em outro incidente, o hindu Jagran Manch (da Luta pelo Avivamento Hindu) informou que “reconverteu” 700 cristãos no dia 2 de abril de 2005, no distrito de Dhamtari. O pastor A. David, presidente da Sociedade de Cristãos de Dhamtari, entretanto, disse que os “reconvertidos” na verdade sempre foram hindus que ajudaram nos cultos cristãos por uma ou duas vezes.
Fonte: Portas Abertas