SILVER SPRING, EUA – Os criadores do documentário What Would Jesus Buy? (O Que Jesus Compraria?) têm um problema: como vender um filme que documenta o artista “Reverendo Billy” e seu Coral Gospel Stop Shopping (pare de comprar) numa turnê americana “guerrilheira” contra o consumismo?
O filme acompanha o reverendo Billy, de cabelos longos e terno branco, e seu coral de 35 vozes em sua viagem feita em dezembro de 2005 em dois ônibus.
Eles invadem shopping centers, megalojas e cafés da rede Starbucks com uma mensagem pregada com fervor pseudo-religioso, de que há um mal crescente no coração da cultura consumista americana: o “apocalypse de compras”, que se aproxima.
Reverendo Billy tenta “exorcizar” a sede da rede Wal-Mart no Arkansas. Ele é preso na Disneylândia no dia de Natal, depois de fazer uma passeata com seu coral, cujos integrantes trajam vestes vermelhas, e denunciar a Walt Disney Corporation por terceirizar a produção de bens ligados a seus filmes.
Numa butique da fabricante de lingerie Victoria´s Secret, conhecida por lançar enxurradas de catálogos com promoções, o reverendo Billy exorta: “Ó Victoria, já conhecemos teu segredo. Não precisamos de 1 milhão de catálogos por dia para termos nossas fantasias sexuais.”
Dificuldade com distribuidores
O filme foi elogiado e possui credenciais sólidas, incluindo seu produtor executivo Morgan Spurlock, que fez sucesso com Super Size Me – A Dieta do Palhaço, que se posicionou contra o fast food da rede McDonald´s.
Mas seu diretor, Rob VanAlkemade, disse que a mensagem de What Would Jesus Buy? faz com que o filme seja difícil de vender para potenciais distribuidores.
“Os grandes distribuidores não se interessaram pelo filme, porque é o Wal-Mart que vende metade de seus DVDs”, disse VanAlkemade depois de uma sessão lotada do filme no domingo, no festival de documentários Silverdocs, perto de Washington.
A rede Starbucks – alvo frequente do Reverendo Bill, a quem um tribunal ordenou que mantenha distância de suas lojas na Califórnia – cancelou seu patrocínio do festival Silverdocs, que é apresentado pelo American Film Institute e o Discovery Channel.
Starbucks
Uma porta-voz do festival, Jody Arlington, disse que a Starbucks expressou mal-estar com o filme e falou de questões de segurança, mas autorizou o festival a ficar com o dinheiro de seu patrocínio, apesar de retirar seu logotipo dele.
Um gerente da Starbucks, Carter Bentzel, negou que a decisão tenha sido ligada ao filme e disse que a Starbucks quer, em lugar do Silverdocs, trabalhar com um festival latino-americano no American Film Institute.
O Reverendo Bill, na vida real, é Bill Talen, de Nova York. Talen disse que, apesar da sátira, sua mensagem possui um componente espiritual sério.
“As corporações multinacionais possuem um elemento de religião fundamentalista”, disse ele.
“Elas exercem tanto controle sobre nós quanto exercia a Igreja Católica no século 14. Estamos tentando romper com isso e descobrir outra coisa”, disse ele.
Fonte: Estadão